15º Domingo do Tempo Comum
Entre as inúmeras bênçãos espirituais com que, segundo S. Paulo, fomos por Deus cumulados – e que o levaram a compor o belo hino que constitui a segunda leitura de hoje – destaca-se a revelação do “mistério da vontade de Deus: instaurar todas as coisas em Cristo”, o que inclui a salvação ao alcance de todos: “os gentios são co-herdeiros connosco, são membros do mesmo corpo e participantes da promessa em Jesus Cristo pelo Evangelho” (Ef. 3, 6).
Se, por um lado, tal decisão de Deus em fazer de nós seus confidentes íntimos é a fonte da nossa alegria e o grande tesouro a preservar, por outro, ela torna-nos necessariamente cúmplices e sócios nesse projeto, ao qual temos de consagrar todo o nosso engenho e energias, isto é, torna-nos todos MISSIONÁRIOS, dado que a missão hoje é definida não só geograficamente – ‘terras de missão’ (lá longe) – mas pelas ‘gentes’ a quem é preciso levar a boa nova de Cristo, e essas tanto se encontram longe, como bem ao perto, quantas vezes dentro da nossa própria ‘casa’!
E contra tudo e contra todos, se necessário for – como Amós. Perante a sugestão – mais ameaça que sugestão, aliás – de demandar outras paragens para continuar a profetizar, ele responde decidida e corajosamente: “foi o Senhor que me disse: vai profetizar ao meu povo de Israel”. E vale a pena reparar na justificação incongruente da ameaça: “aqui é o santuário real, o templo do reino”. Teoricamente, seria aí que mais facilmente a palavra de Deus deveria ser procurada e abundantemente proclamada!
No texto do evangelho está bem claro o perfil do missionário: mochila cheia de nada – “nem pão, nem alforge, nem dinheiro”; apenas o bastão, para lhe lembrar que o seu único ponto de apoio é Aquele que o envia; sandálias nos pés, pois tem longas e duras distâncias a percorrer; coração pobre e humilde, para poder ser acolhido em toda a parte; mas não alinhado, para poder reconhecer e denunciar, para “arruinar e destruir, para edificar e plantar” (cf. Jer. 1, 10); língua solta, para convidar à conversão e ao arrependimento e mãos livres para ungir e curar.
E o evangelista, para mostrar que não se trata de mera teoria, afirma que os “Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, expulsaram demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos”. E assim tem sido ao longo dos séculos, pois esta boa nova chegou até nós. Agora é a nossa vez de darmos continuidade a esta corrente, com a força e a coragem de Paulo e de Amós, estimulados pelo exemplo e pelos apelos do Papa Francisco: “batizados e enviados”.
Como o Salmista, também nós reconhecemos – Bendito seja Deus! – e proclamamos que “a nossa proteção está no nome do Senhor”, que nos envia, mas sempre nos acompanha!