4º Domingo do Advento
O texto da Carta aos Hebreus, escutado neste domingo, projeta-nos muito para além da evocação histórica do nascimento de Cristo e encaminha-nos para a nova religião, na qual o relacionamento com Deus não se centra, nem se limita ao cumprimento de alguns preceitos e obrigações e o agir cristão tão pouco é apenas um código de moralidade. A vida cristã fundamenta-se numa relação de amizade e de intimidade, em que o amor e a confiança substituem o temor, e as normas são encaradas como corolário dessa amizade. Por isso, o culto antigo, centrado na imolação de animais em sacrifício, em Cristo dá lugar à oferta pronta e alegre de si mesmo: “eis-me aqui: eu venho para fazer a tua vontade”.
Como é importante que cada um(a) de nós descubra esta novidade do Cristianismo para passarmos de meros ‘praticantes’ e cumpridores de preceitos e obrigações para ‘amigos’ e confidentes de Jesus, e Deus se transforme no ‘nosso Pai do Céu’!
Como é importante que cada um(a) de nós descubra esta novidade do Cristianismo para passarmos de meros ‘praticantes’ e cumpridores de preceitos e obrigações para ‘amigos’ e confidentes de Jesus, e Deus se transforme no ‘nosso Pai do Céu’!
Com razão, o Papa Francisco afirma: “Não me cansarei de repetir estas palavras de Bento XVI que nos levam ao centro do Evangelho: ‘No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo’. Somente graças a este encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência isolada e da autorreferencialidade. Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos, a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro”.
Esta mudança arrasta consigo também uma inversão nos critérios pelos quais pautamos a nossa existência, tal como aconteceu com Jesus: apesar de ser o Rei, nasceu pobre e de pais pobres, numa pequena aldeia, que só os especialistas conseguiram identificar (Belém), sujeitou-se às vicissitudes do exílio e cresceu numa localidade cuja fama ficou assim plasmada: “De Nazaré pode vir alguma coisa boa?” (cf. Jo. 1,46).
Maria, como não podia deixar de ser, aparece-nos como a primeira mulher do novo culto, a mulher da fé, aquela que encontrou a sua felicidade nesta entrega incondicional e confiante nas mãos de Deus e ao serviço dos irmãos. Por isso a vemos, no texto evangélico de hoje, pôr-se apressadamente a caminho, após ter conhecimento da situação em que se encontrava sua prima Isabel. É a primeira viagem missionária de Maria! É a viagem da disponibilidade e do serviço. E é também a viagem do louvor e da ação de graças – é a viagem do Magnificat!
Mas tudo isto acontece após a “viagem” ao coração de Deus, da viagem ao encontro da vontade e do projeto de Deus. Não se trata de duas viagens, mas uma só. De facto, a viagem missionária ao encontro dos homens só o será autenticamente se for acompanhada da viagem ao coração de Deus. Aí é que está a fonte de toda a missão. É de lá que vem o Missionário, “Aquele que o Pai enviou”.
Por isso, a celebração cristã do Natal apela a que também nós cresçamos na fé e nos tornemos ‘celebrantes’ do novo culto, não nos contentando com uma prática religiosa ritualista, rotineira e entediada, mas que encontremos a nossa alegria e realização pessoal no cumprimento amoroso e alegre da vontade de Deus e imitemos Maria, na sua atitude de louvor a Deus e de missionária ao encontro dos que mais precisam de ajuda.