É só olhar a imagem, está lá tudo. Não há, pois, desculpa para não conhecer a vida e virtudes do “primeiro santo português”. Só este título devia obrigar cada católico deste país a estudar, invocar e em muitos aspetos imitar São Teotónio, nascido em Ganfei, Valença, em 1082. Celebramos a sua memória a 18 de fevereiro, data da sua morte em 1162.
As vestes com que aparece ensinam que foi Cónego Regular do Mosteiro de Santa Cruz, que ele e outros 11 monges fundaram em Coimbra e onde seguiram a Regra de Santo Agostinho. Nesse mosteiro foi prior a partir de 1132, como atesta o báculo que segura, que segundo a tradição lhe foi oferecido por São Bernardo. Foi a partir dessa condição e desse mosteiro que a sua influência moral, religiosa, cultural e também política se fez sentir junto de D. Afonso Henriques, de que era conselheiro e apoiante nesses inícios e lutas pela independência do reino.
Não se pense, porém, que a proximidade ao poder político o desviava da sua missão. São conhecidos dois episódios reveladores. Um, quando após uma batalha D. Afonso Henriques aprisionou mais de mil moçárabes para fazer deles escravos. São Teotónio foi enfrentar o rei e exigiu que os libertasse, acolhendo-os o santo junto do mosteiro e sustentando-os. Outro episódio narra que um dia a rainha D. Teresa enviou um mensageiro à sacristia, ordenando a São Teotónio que a missa fosse breve. Este mandou dizer à rainha que no céu existia uma rainha melhor e mais importante, por isso a missa iria durar o que a solenidade exigia, e a rainha, se tinha pressa, que fosse embora. Outros tempos, vê-se. Noutras imagens, em vez do báculo usa um bastão, que lembra a sua condição de peregrino, especialmente as duas peregrinações que realizou à Terra Santa, e onde sonhava voltar para lá permanecer.
Continuemos a olhar a imagem, que nos quer chamar a atenção para o livro que segura numa das mãos. Representa naturalmente a Sagrada Escritura. Explica quem sabe que se o livro está aberto, mostra a sua pregação e ação evangelizadora; se está fechado, mostra a contemplação e oração que o caracterizavam.
Mas São Teotónio aparece-nos com outros dois atributos que lhe são específicos. A mitra episcopal colocada aos seus pés, que nos lembra que ele recusou ser bispo quando era prior em Coimbra, apesar da insistência das autoridades religiosas e civis da época. Símbolo de humildade, portanto, confirmada pela renúncia ao cargo de prior nos últimos 10 anos da sua vida. Um outro símbolo é o globo estrelado, às vezes colocado sobre o livro, outras vezes a seus pés. Remete para o episódio na véspera da sua morte. Foi o caso que os monges de Santa Cruz viram descer do céu até ao meio do claustro um imenso globo cheio de estrelas, atirando raios de luz à sua volta. O que significou tal visão permanece um mistério. Há quem interprete como significando a luz do Céu lançada sobre os inícios da nacionalidade portuguesa; ou que ele foi um semeador de estrelas, o mesmo é dizer espalhou a luz de Deus à sua volta.
O que não é mistério é que o primeiro santo português permanece um exemplo. De oração e escuta da Palavra de Deus, humildade no serviço, compromisso com a pátria, liberdade perante o poder, obediência perante Deus. Não admira que tenha atraído raios de luz vindos do alto.
São Teotónio, rogai por nós.
O primeiro santo português permanece um exemplo. De oração e escuta da Palavra de Deus, humildade no serviço, compromisso com a pátria, liberdade perante o poder, obediência perante Deus. Não admira que tenha atraído raios de luz vindos do alto.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva