31º Domingo do Tempo Comum
A insistência de Moisés em que, por toda a parte e por todos os meios, o ‘Escuta, Israel’ acompanhasse os israelitas, destinava-se sobretudo a criar um ambiente em que se respirasse a aliança com Deus e o reconhecimento de que o caminho por Ele proposto era o único a garantir a sua longevidade, prosperidade e felicidade.
Hoje, mesmo que o nosso país continue a ser designado como ‘país católico’, a verdade é que já não é esse o ‘ar’ que se respira e nada adianta ficar numa lamentação eterna e saudosista, mesmo que sincera e compungida.
A única atitude válida perante essa constatação é cada um de nós, cada família, cada comunidade cristã procurar os meios adequados, que, para além de alternativos, nos levem a opções mais conscientes, mais profundas e mais comprometidas, das quais resultará um cristianismo mais autêntico, mais apaixonado e testemunhante, que não nos fecha em nós mesmos, mas se empenha em ajudar a humanidade dos nossos dias a reencontrar o caminho certo, aquele que Deus como pai amoroso nos propõe.
Por sua vez, o diálogo entre Cristo e um escriba não se limita a recordar e repetir Moisés, mas, bem ao contrário, traz uma novidade revolucionária: o alcance do segundo mandamento – “amarás o teu próximo como a ti mesmo” – é exatamente igual ao do primeiro – “amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”!
A resposta do escriba, fazendo dos dois mandamentos um só, mostra que ele percebeu perfeitamente a mensagem do Mestre, quando Cristo afirmou que o segundo era semelhante ao primeiro, e que o seu cumprimento pleno é o culto verdadeiramente agradável a Deus.
O texto da Carta aos Hebreus apresenta-nos Cristo como o sacerdote desse ‘caminho novo’, porque tendo-o percorrido até ao fim, se tornou ele mesmo esse ‘caminho novo’: “Eu sou o Caminho”. Por isso, Ele pode-nos guiar, acompanhar e ajudar a percorrer esse mesmo caminho, pois Ele próprio experimentou o quão difícil e exigente é percorrê-lo.
De facto, a partir de Cristo, já não dá para separar mais Deus do Homem e o Homem de Deus. Daí que S. João afirme: “quem não ama o seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1Jo. 4, 20).
Que o Senhor Jesus nos ajude a passarmos de uma prática ritualista e de uma vivência minimalista da nossa fé para o mandamento novo do amor, a fim de podermos nós também ouvir: “Não estás longe do Reino de Deus”!