23º Domingo do Tempo Comum
Acabamos de ouvir: “Se alguém vem ter comigo, sem Me preferir ao pai, à mãe, à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. Convenhamos que Jesus não é nada meigo nestas palavras que nos acaba de dirigir: a sua proposta é-nos apresentada com toda a frontalidade e com a máxima radicalidade, a saber: para O seguir é preciso colocá-l’O acima de todos e de tudo!
E o recurso ao exemplo dos preparativos para a construção de uma torre vem inculcar as condições fundamentais desta escolha por Cristo: sendo tarefa para muito tempo, isto é, para toda a vida, a sua concretização requer perseverança. Por outro lado, sendo a torre o tipo de construção que mais cuidados requer – por desafiar o equilíbrio entre a altura e a base de sustentação – Jesus alerta-nos para a importância dos fundamentos sobre os quais a nossa ‘torre’ vai sendo erguida.
E, hoje, os ventos não sopram de feição para tarefas tão longas e tão exigentes: mergulhados como estamos no facilitismo e no imediatismo do “já e sem esforço” reinante, a música de uma radicalidade exigente e perseverante não nos embala para semelhante género de compromisso. Também sabemos que estes produtos – exigência e ponderação – são dos menos procurados nas prateleiras da vida. Daí a necessidade de um espírito firme e diferente – o “espírito santo” da sabedoria -, para aprendermos o que agrada ao Senhor e a isso nos consagrarmos de alma e coração. Daí também o convite do papa Francisco: “Na cultura do provisório, do relativo, muitos apregoam que o importante é ‘curtir’ o momento, uma vez que não se sabe o que nos reserva o amanhã. Tenham a coragem de ‘ir contra a corrente’.
Vamos dar início a novo ano apostólico, que pode e deve ser para cada um de nós a oportunidade para fortalecermos e levantarmos um pouco mais a ‘torre’ da nossa eternidade. Mas não tenhamos ilusões: só aceitando a radicalidade da proposta de Cristo é que estaremos em condições de dar este salto em frente; doutra forma, será sempre “mais do mesmo” e não esqueçamos que não é com fogo de vistas e com entusiasmos momentâneos que se constrói seja o que for, muito menos uma torre!