O Batismo de Jesus
Na estrutura dos evangelhos sinóticos é bem visível a importância atribuída ao batismo de Jesus. Com efeito, os três evangelistas referem que, após ter sido batizado por João, Jesus se retirou para o deserto, onde foi tentado e, de seguida, deu início à missão que o Pai que confiara.
Também para Pedro, o momento do batismo entra no critério para a escolha do sucessor de Judas no colégio apostólico: ter sido testemunha de tudo o que aconteceu “a começar pelo batismo de João até ao dia em que Ele nos foi arrebatado” (At. 1,22).
Importa também referir que Jesus recebeu como que dois ‘batismos’: o de João, ao qual se seguiu o ‘batismo do céu’: a voz do Pai fez-se ouvir e o Espírito desceu sobre ele em forma de pomba! O que é certo é que, a partir deste momento, como ouvimos da boca de Pedro, “Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com ELE”.
Ora, é destes dois ‘batismos’ que também nós participamos – fomos batizados na água e no Espírito Santo – para que, à semelhança de Jesus e com a força do mesmo Espírito, passemos “fazendo o bem e curando todos os oprimidos”. Daí que também para nós, o Batismo não possa ser apenas um acontecimento, situado mais longe ou mais perto, conforme a história de cada um de nós, mas deva ser um marco e uma marca.
‘Marco’ a ser recordado e celebrado, tal como a data do nosso aniversário natalício; e ‘marca’ a definir a nossa identidade – o nosso ADN de cristãos – que transpareça nas nossas palavras e gestos, nas nossas atitudes e comportamentos, nos valores por que pautamos a nossa vida e no jeito de enfrentar todas as situações com que nos deparamos na vida.
Se é verdade que a prática da receção do batismo pouco tempo após o nascimento não favorece esta consciência, também não deixa de ser verdade que esta opção de vida foi sendo assumida de forma progressiva ao longo da nossa caminhada cristã e que importa reassumir constantemente ao longo de toda a nossa existência. Por isso, ouso avançar com duas pequenas sugestões:
– que cada um procure saber a data do seu batismo e que não deixe de a celebrar da forma que achar mais conveniente;
– que vamos organizando a nossa vida de forma a que possamos fazer da próxima Quaresma um verdadeiro tempo de caminhada catecumenal, para que na próxima Vigília pascal a nossa ‘marca’ de batizados apareça de forma mais vincada em toda a nossa vida! Disse o Papa Francisco: “Não deixeis que vos roubem a vossa identidade cristã!”
O problema da Igreja hoje não está só no número – preocupante, sem dúvida – de quantos abandonam a prática religiosa, deixando as nossas igrejas cada vez mais vazias, mas está também – e sobretudo, diria eu – em quantos, mesmo dizendo-se ‘cristãos’, deixaram desaparecer das suas vidas esta ‘marca’ dos batizados. De facto, em vez de batizados que se assumem como discípulos de Cristo e membros corresponsáveis e comprometidos da sua comunidade cristã, temos batizados que, na prática, não passam de ‘pagãos’!