18º Domingo do Tempo Comum
O mês de agosto é, entre nós, o mês de férias por excelência. Por isso e antes de mais nada, votos de boas e retemperadoras férias, para quem as possa ter e gozar!
‘Férias’ é, acima de tudo, sinónimo de tempo ao nosso dispor, ausência de horários e de obrigações, embora, cada vez mais elas exijam uma programação prévia, em que as preocupações incidem no(s) destino(s), viagens e alojamento. Serão muito poucos aqueles que procuram prever a sua dimensão espiritual e religiosa!
Em socorro desta deficiência vem a Palavra do Senhor deste domingo, convidando-nos a incluir na programação das nossas férias uma proveitosa e, porque não, indispensável reflexão sobre as razões mais profundas que nos fazem viver, ou, melhor ainda, correr na vida. Sim, porque na ‘correria’ louca da nossa vida, quase nem tempo há para parar, respirar fundo e refletir! Ai de nós, se nem em férias conseguimos tempo e disposição para o fazer!
Por isso, talvez mais que nunca seja oportuno o exagero do texto de Coelet: “vaidade das vaidades: tudo é vaidade… Que aproveita ao homem todo o seu trabalho e a ânsia com que se afadigou?”. Por sua vez, Cristo não fica atrás, ao afirmar-nos: “assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus”!
Aceitemos, pois, incluir nas nossas férias deste ano um tempo, por curto e onde quer que seja, para parar, respirar fundo e refletir sobre o rumo e as razões que nos fazem correr neste estilo de vida que nos habituamos a designar por ‘stressante’, uma palavra moderna e sonante para encobrir a sua realidade insofismável de ‘louco’.
E, para aqueles que tiverem mais coragem, valerá a pena perguntarem-se quais as razões que terão levado Jesus a distanciar–se da conflituosa questão das partilhas, mesmo num tempo em que havia tão pouco para repartir!? Quantas famílias desavindas vemos nós, mesmo entre cristãos, por uma questão que deveria ser tão secundária e que, infelizmente, aumenta de importância na exata medida em que os herdeiros menos precisam desse acréscimo de riqueza para o seu bem-estar? Não será mesmo ‘vaidade das vaidades’ no altar da partilha dos bens patrimoniais sacrificar toda a outra riqueza da herança familiar, como sejam o nome, a educação, os valores, os laços de sangue, a paz, o respeito e a fraternidade?
Paulo, no texto de hoje, apresenta-nos um resumo maravilhoso daquilo que é o programa de todo o batizado: fazer morrer não só toda a “imoralidade, impureza, mentira e maus desejos”, mas também a “avareza, ‘que é uma idolatria’”. O próprio Cristo, no evangelho, nos alerta para os perigos da avareza, ao afirmar que “a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens” materiais. E o Papa Francisco afirmou, há tempos, que “o ter, o dinheiro e o poder podem oferecer um momento de embriaguez, a ilusão de sermos felizes”, mas, na realidade, só podem “empanturrar”, mas nunca “alimentar e fortalecer” uma vida.
Se temos de reconhecer que, em tempos não muito recuados, não era reconhecido espaço à sensibilidade na espiritualidade cristã, na cultura de hoje são os sentimentos que prevalecem nas decisões e opções de muita gente, numa clara sobrevalorização da afetividade em detrimento da coerência e da fidelidade.
Por isso, este texto paulino é extremamente oportuno, para tentarmos puxar para o lado da razão a nossa sensibilidade, facilitando assim a fidelidade às opções tomadas, pois até a nossa sabedoria popular nos recorda que “quem corre por gosto, não cansa”. Educar a sensibilidade, exercitá-la na adesão gostosa àquilo que a nossa inteligência nos mostra e a vontade decide, é tarefa para cada um de nós e deve ser preocupação nas tarefas educativas das novas gerações, que vivem mergulhadas num autêntico “império dos sentidos”.
É que, se, nem em férias, conseguimos tempo para esta paragem e reflexão, corremos seriamente o risco de, quando menos o esperarmos, sermos intercetados pela operação de auto-stop pré-anunciada por Cristo: “Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?”