O Papa Francisco escolheu para as Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa o tema ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente…’: A ironia do destino (ou o sinal de Deus!) é que se cumpriu o provérbio português ‘quanto mais depressa mais devagar!’ E, assim, as JMJ 2022 já só vão acontecer no ano seguinte!
Gosto muito desta passagem em que uma mulher grávida (Maria) decide galgar montes e vales para ir apoiar a sua prima (Isabel), a viver uma gravidez de alto risco! Maria é um bom modelo para todos os tempos e lugares, inspirando-nos muito nesta hora de Covid em que somos convidados a sair, mas com calma e com cautela.
Não é por acaso que a Mãe de Jesus está muito presente na vida e na Missão deste Papa de origem latino-americana. Na sua 1.ª Exortação Apostólica, “A Alegria do Evangelho”, o Papa atribui-lhe cinco números, com o título ‘Maria, a Mãe da Evangelização’. Ali diz que Cristo “não quer que caminhemos sem uma Mãe’ (n.º 285). Mais à frente escreve: ‘Maria é aquela que sabe transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. (…). Como uma verdadeira Mãe, caminha connosco, luta connosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus” (n.º 286). Por fim, confessa que “sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afecto” (n.º 288).
Na Encíclica “Laudato Si”, o Papa evoca a Rainha de toda a criação: “Maria, a Mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido” (nº. 241).
Mas Maio rima com Fátima e, neste santuário mariano, o Papa Francisco gritou: “Temos Mãe!”. Com um milhão de pessoas, rezou: “Peregrino da paz que neste lugar anuncias, louvo a Cristo, nossa paz e para o mundo peço a concórdia entre todos os povos (…). Percorreremos assim todas as rotas, seremos peregrinos de todos os caminhos, derrubaremos todos os muros e venceremos todas as fronteiras, saindo em direcção a todas as periferias, aí revelando a justiça e a paz de Deus”. E, um pouco mais tarde, pediu a Maria: “‘Vê as dores da família humana que geme e chora. Faz-nos peregrinos como peregrina foste tu”. Este ano, Fátima estará sem peregrinos presentes, mas com muita gente, via tv ou internet, a fazer uma peregrinação com o coração!
Na 3.ª Exortação Apostólica, “Alegrai-vos e Exultai”, Francisco apresenta Maria como aquela que “viveu como ninguém as Bem-Aventuranças de Jesus (…). É a mais abençoada dos santos entre os santos, aquela que nos mostra o caminho da santidade e nos acompanha (…). Conversar com ela consola-nos, liberta-nos, santifica-nos” (n.º 176).
Maria é – com toda esta pressa que marca o estilo missionário de viver e anunciar o Evangelho – um modelo de perfeição. A disponibilidade para servir os mais pobres está presente nesta sua emblemática visita à prima Isabel. O nascimento nas periferias de Belém mostra a sua experiência de vida simples e pobre, sujeita a contingências da história, como hoje o mundo vive com este Covid, que nos apanhou de surpresa. A fuga para o Egipto, com José e o Menino, prova a sintonia que esta família de Nazaré tem com quantos são forçados a abandonar à pressa as suas terras e as suas gentes para arriscar a sobrevivência, escapando à maldade de perseguidores ou à crueldade de situações e contextos onde a vida se torna impossível. A intervenção nas bodas de Caná atesta a sua preocupação com as pessoas, querendo assegurar sempre a alegria e a festa. O caminho do Calvário e a experiência da “Pietà” são, para o mundo, testemunho de coragem e de amor de Mãe, como tão bem expressa Miguel Ângelo na estátua que todos os peregrinos de Roma visitam e olham estupefactos logo que entram na Basílica de S. Pedro. A presença no Cenáculo, naquela manhã de Pentecostes, torna-a membro qualificado da Igreja desde o primeiro dia! Ela estava lá, como está em todos os lugares onde a sua maternidade é valor acrescentado para a vida dos filhos.
Esperamos todos que este tempo seja já de “achatamento da curva” quanto aos efeitos dramáticos do Covid nas nossas vidas. Que a pressa de Maria a apoiar a prima, a fugir para o Egipto ou a gritar pela vinda do Espírito no Pentecostes também leve os humanos a correr em socorro das vítimas de todas as tragédias que espezinham as pessoas por esse mundo fora. “Temos Mãe”. Sejamos filhos à altura da sua pressa e da sua intervenção.
Tony Neves, CSSp & Artur Teixeira, CMF