Vivo com um espiritano centenário na mesma comunidade. Costumo dizer-lhe, em jeito de brincadeira, que “é mais velho do que Nossa Senhora de Fátima”!? Uma vida longa, mas “sempre com razões de sobra para agradecer a Deus pelo caminho que segui”, diz-me o Ir. Tomás. Olho para a história e vida deste missionário e percebo a presença de Deus que chama e envia.
Tudo começou há 100 anos atrás em Maljoga, Proença-a-Nova. Membro de uma família muito feliz, onde a oração do terço era diária. Em 1928, Adelino Alves (é esse o seu nome de batismo) então com 11 anos, já trabalhava como alfaiate por conta própria e o futuro prometia. Pensou inicialmente que a sua vocação era o matrimónio, chegando mesmo a ter casamento marcado. Mas Deus tinha um projeto diferente para este homem. Nas vésperas do casamento, tomou uma decisão inesperada e humanamente inexplicável, decidiu entrar para a Vida Religiosa! Alguns espiritanos tiveram influência nesta decisão e depois no Seminário do Fraião, em Braga, encontrou outros que o receberam com simpatia e o apoiaram na sua caminhada.
Após algum tempo de formação para Irmão, professa no ano de 1946. Logo em seguida, no ano de 1947, inicia o Curso de Enfermagem no Hospital de S. Marcos, em Braga. Embora não o termine, uma grande parte da sua vida e missão vai ser como Enfermeiro: 45 anos ao serviço dos doentes (23 anos em Angola e 22 em Portugal). Conta com alegria e emoção como ganhou fama ao cuidar dos 40 seminaristas que na mesma ocasião foram vítimas da gripe asiática, escapando ileso. Ou então, dos vários anos como parteiro! Os tempos eram outros, as condições eram poucas e as histórias davam para encher um jornal!
Em 1965, parte como missionário para a Missão de Nossa Senhora das Dores, no Lubango, em Angola. Durante 23 anos passará por várias missões sempre como enfermeiro: Missão da Môngua, em Cafima e na Missão do Munhino. Aqui, durante 16 anos, “passei os mais belos anos de minha vida”, conta o Ir. Tomás. Em 1988, sentindo-se mais frágil, regressa a Portugal. Desde 1996 que se encontra na comunidade Espiritana do Fraião, em Braga.
Olho para este missionário e mais do que um ancião ou avô vejo nele um homem de fé e oração; um homem feliz e em paz consigo próprio, com um sorriso cativante. ‘Como são belos os pés’ deste MISSIONÁRIO!