Muitos assuntos da vida em comunidade são alvo de discórdia e o batismo não é exceção. Há quem acredite que foi batizado em bebé porque os pais assim o entendiam e hoje, adulto, não vê qualquer importância nisso, contestando até aquilo que diz ser um ‘peso’. Isso de ser cristão, por fé ou ‘por tradição’ é, afinal, um mochila pesada a abandonar.
Outros acreditam que deve ser a criança a decidir durante a sua juventude ou vida adulta, na esperança de que ela possa escolher o seu credo sem a intervenção de terceiros, argumentando muitas vezes que Cristo foi batizado adulto.
Argumentos à parte, qualquer um de nós que descubra um grande e belo tesouro gostaria de o partilhar com aqueles que ama. Chamemos-lhe o Euromilhões cristão. Todos nós recebemos a chave certa desse jogo no dia do nosso batismo. Foi-nos ofertada uma riqueza sem medida que, como escutei há dias na eucaristia, é tão grande que o nosso cérebro não pode imaginar e, simultaneamente, tão pequena que pode caber no nosso coração. Crescemos com esse tesouro, partilhámo-lo ao longo da vida com os nossos familiares e amigos e, como acontece com tantos vencedores de jogos de sorte ou azar, partilhámos também com aqueles que mais precisam. Ter o Euromilhões (o cristão, claro) não é pensar numa vida sem problemas. Travamos o Bom Combate de que São Paulo falava, fazemos aquilo que ninguém quer e os dias difíceis estão até mais garantidos do que os fáceis e felizes, em que nos deitamos ao sol.
Imaginar-nos a esconder essa riqueza para dos outros, desejando-a exclusivamente para si, é destruir o conceito de Reino dos Céus. É não termos percebido nada da mensagem de Jesus, quem Ele é, o que nos pede, quem somos. É ter de fazer um reset à nossa essência e começar do zero.
Batizar é dar caminho. É dizer àquele bebé, àquela criança, àquele jovem que é de Deus para sempre. É amado por Ele (batizados ou não, todos o somos, é certo), pertence-Lhe como se pertence a uma família. É da Igreja. É, pelo sacramento do batismo, sacerdote, profeta e rei. Este estado de comunhão com Jesus e a Igreja não nos coloca num pedestal mas ‘empurra-nos’ para uma vida ao serviço do reino. Onde ele nos chama a cada momento. A chave do Euromilhões continua nas nossas mãos durante toda a vida, mesmo que os desafios do quotidiano a pareçam fazer escapar.