5º Domingo da Páscoa
A Palavra de Deus tem recorrido a imagens, tiradas da vida real, para nos mostrar o lugar central e imprescindível que Cristo tem de ocupar na vida dos cristãos.
Com a ‘pedra angular’, incutia-nos que, sem Cristo, a construção da nossa vida não adquire consistência, nem segurança; no ‘bom Pastor’, Cristo é-nos apresentado como aquele que devemos seguir, numa docilidade confiante, para trilharmos caminhos seguros.
Hoje é pela alegoria da videira que o Senhor nos mostra como é indispensável a união profunda e vital a Cristo, para podermos produzir bons e abundantes frutos.De facto, o cristão não se pode atolar no lamaçal do egoísmo e do comodismo, nem enredar nos liames da mediocridade e da indiferença, que pululam nas águas costeiras, mas tem de navegar no alto mar do testemunho, do compromisso e da generosidade.
Que uvas poderão ser colhidas na vinha da nossa vida, eis, pois, a questão à qual importa dar resposta. É que, como diz S. João, acreditar em Cristo é guardar os seus mandamentos, é amarmo-nos uns aos outros. Foi o que começou a fazer Paulo, uma vez convertido e integrado na comunidade dos crentes, a ponto de poder afirmar: “já não sou eu que vivo – é Cristo que vive em mim” e “a glória de meu Pai é que deis muito fruto”.
E também não é de cristãos falhados e falidos que o nosso mundo precisa! Que temos feito da seiva abundante que, da Ressurreição de Cristo, escorre para as nossas vidas? Será que, também a nós, se poderá aplicar o aforismo “muita parra e pouca uva”?
Convém também não esquecer que nenhum ramo escapa à intervenção do podador: a machadada final para os ramos murchos e secos; e para os outros, a poda cuidadosa, a fim de que deem ainda mais fruto.
De facto, a ausência de frutos será muito mais sinal de morte do que efeito de grandíssima humildade. Por isso, deixemos que o Espírito Santo rebente a estreiteza do nosso coração, para que nele possam germinar projetos à medida de Cristo Ressuscitado, mesmo sabendo que, para isso, o vinhateiro que nos cultiva tem mesmo de nos ‘podar’!
Não resisto a transcrever o nº 24 da recente Exortação apostólica do papa Francisco sobre a santidade: “Oxalá consigas identificar a palavra, a mensagem de Jesus que Deus quer dizer ao mundo através da tua vida. Deixa-te transformar, deixa-te renovar pelo Espírito para que isso seja possível, e, assim, a tua preciosa missão não fracassará. O Senhor levá-la-á a cumprimento mesmo no meio dos teus erros e momentos negativos, desde que não abandones o caminho do amor e permaneças sempre aberto à sua ação sobrenatural, que purifica e ilumina”.