34º Domingo do Tempo Comum
A realeza de Cristo é-nos apresentada através de imagens de difícil conciliação: como combinar a solicitude do pastor (1ª leitura) com o trono glorioso e majestático do texto evangélico?
Mas é mesmo este o jeito de Cristo ser rei! Foi este o caminho que Ele percorreu até alcançar o trono da Ressurreição.
Por isso, não pode apontar-nos outro caminho que não seja o da solicitude atenta e devotada por todos os necessitados.
Em tempos em que os homens dão tudo para conseguir um ‘momento de glória’ e se prostram subservientemente diante dos poderosos e dos famosos, os cristãos são chamados a não se desviarem do caminho percorrido pelo seu Mestre e Rei.
E não se trata de uma realeza ‘do outro mundo’, nem apenas de ser rei de outra maneira, mas da única realeza autêntica: servir é que é reinar! Com efeito, tantos Reis, Imperadores e Impérios houve através dos tempos e já há muito cobertos pela poeira do esquecimento, enquanto a realeza de Cristo permanece e cresce até que “todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés”, garante S. Paulo. Por isso, só em Cristo podemos encontrar a verdadeira realeza, aquela que não é origem de dominação e de despotismo, que arruína e destrói, mas fonte de vida e de vida em abundância para todos.
A palavra do Senhor deste dia diz-nos, pois, que a verdadeira forma de reinar é a do pastor, que não apenas cuida do seu rebanho de forma global e anónima, mas se dedica de forma pessoal e diferenciada a cada uma das suas ovelhas, tendo em conta a sua situação: vai procurar a que se desgarrou e anda perdida ou tresmalhada, cuida da que está ferida, acarinha e trata da que anda enfraquecida, e não se dispensa de velar pela gorda e vigorosa, pois para ele cada uma das suas ovelhas é única.
Estes tempos de pandemia, impondo o distanciamento social e impedindo os contactos físicos, desafiam-nos a descobrir novas formas de uma proximidade atenta e solícita, pois a chave que abre as portas deste Reino, diz-nos Jesus no evangelho, são as obras de misericórdia: tive fome e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era peregrino e acolheste-me; estava doente ou preso e fostes visitar-me; andava necessitado e vestistes-me…
Só com e como Cristo poderemos ser verdadeiramente independentes para nos pormos amorosamente ao serviço dos outros! Só com esta chave poderemos abrir a porta do Reino dos Céus! Com efeito, como disse alguém, Deus, no juízo final, não olhará para as nossas faltas, mas para as nossas mãos, para ver se elas estão vazias ou cheias de boas obras!