4º Domingo da Páscoa
O Papa Francisco, ao propor, nesta semana de oração pelas vocações, S. José como modelo, não pretende apresentá-lo como uma alternativa à figura evangélica do bom pastor, mas apresentar nele uma concretização interpelativa da resposta que cada um/a de nós é chamado/a a dar aos apelos do Senhor.
Com efeito, na figura do pastor está caracterizado o homem sem agenda, sem projeto próprio e sem horário de trabalho, todo voltado para o bem-estar do seu rebanho. Indiferente ao sol ou à chuva, ao frio ou ao calor; numa solidão recheada de contemplação do horizonte e polvilhada com interessantíssimos diálogos com cada uma das suas ovelhas; apoiado no seu bastão ou sentado numa fraga e tendo por colaborador o seu fiel e competente cão, ele vive exclusivamente para as suas ovelhas!
Por sua vez, S. José é-nos apresentado como o homem que embarcou nos sonhos de Deus a seu respeito, adotando continuamente uma atitude de serviço, numa disponibilidade e fidelidade que se tornam a fonte perene da sua alegria. “Trata-se realmente duma figura extraordinária e, ao mesmo tempo, tão próxima da condição humana de cada um de nós. S. José não sobressaía, não estava dotado de particulares carismas, não se apresentava especial aos olhos de quem se cruzava com ele. Não era famoso, nem se fazia notar: dele, os Evangelhos não transcrevem uma palavra sequer. Contudo, através da sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus” – assim o retrata o Papa Francisco.
Está assim encontrado o denominador comum a todo e qualquer chamamento da parte de Deus: deixar de estar centrado em si, numa desmesurada pretensão de autonomia e num tempo “marcado por escolhas passageiras e emoções que desaparecem sem gerar alegria”, para se tornar aberto e disponível aos outros, numa atitude de serviço, que, em vez de nos diminuir, se transforma em fonte de realização, de felicidade e de alegria, “pois só se tem a vida que se dá, só se possui de verdade a vida que se doa plenamente. A este propósito, muito nos tem a dizer S. José, pois, através dos sonhos que Deus lhe inspirou, fez da sua existência um dom”.
E conclui o Papa Francisco: “Por isso gosto de pensar em S. José, guardião de Jesus e da Igreja, como guardião das vocações. Com efeito, da própria disponibilidade em servir, deriva o seu cuidado em guardar. “Levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe”: refere o Evangelho, indicando a sua disponibilidade e dedicação à família.
Este cuidado atento e solícito é o sinal duma vocação realizada. É o testemunho duma vida tocada pelo amor de Deus. Que belo exemplo de vida cristã oferecemos quando não seguimos obstinadamente as nossas ambições nem nos deixamos paralisar pelas nossas nostalgias, mas cuidamos de quanto nos confia o Senhor, por meio da Igreja! Então Deus derrama o seu Espírito, a sua criatividade sobre nós; e realiza maravilhas, como em José”.
Como seria belo se esta mesma atmosfera simples e radiosa, sóbria e esperançosa, permeasse os nossos seminários, os nossos institutos religiosos, as nossas residências paroquiais! – desabafa o Santo Padre. E as nossas famílias – acrescentaria eu!