Pe. Carlos Gouveia Leitão é daqueles missionários espiritanos que já não existem mais nos dias de hoje. E isto porque toda a sua vida foi vivida ao serviço da Missão no exterior da sua terra natal. No seu próprio dizer, tem mais anos de África do que da Europa. São poucos os espiritanos que podem dizer isto!
Nasceu a 20 de Março de 1935 no Sabugal, antigo torrão de vocações e, hoje, conta com a bonita idade de 87 anos. E vamos lá fazer contas para certificarmos que já não existem missionários deste calibre e paixão pela coragem de partir e servir além-fronteiras.
Foi um grande Missionário em terras de Angola onde viveu 37 anos da sua vida. Aí viveu os anos mais belos sem esquecer as perseguições e tormentos que teve de passar para defender o povo de Deus dos ataques políticos e partidários. E só regressou por sentir alguns problemas de saúde. Vencidos esses problemas, não se encostou às boxes nem se deixou levar pelo comodismo da vida em Portugal. Em 1998, volta a partir, desta vez, rumo a Cabo Verde. Aqui permaneceu durante 24 anos de paixão missionária, entre a Paróquia de São Miguel Arcanjo, na Calheta, onde foi Administrador Paroquial e Vigário Paroquial e a Paróquia de Santiago Maior também como vigário cooperador.
37 anos de Angola e 24 de Cabo Verde, dão um total de 61 anos de África. Não é para todos!
E só regressou agora, depois de muita insistência para vir cuidar da sua saúde pois, para ele, já fazia as suas contas de morrer na Calheta de São Miguel e ser sepultado no cemitério local onde já está enterrado outro grande missionário espiritano, sem igual, Pe. Manuel Ferreira da Silva que viveu 21 anos em Angola e 25 em Cabo Verde. Faleceu no ano de 2007.
Tive a graça e a alegria de ter vivido em comunidade e trabalhado com estes dois grandes missionários na Paróquia de São Miguel Arcanjo. Foram para mim um exemplo de entrega, doação e paixão missionária. Homens e Missionários como estes não teremos mais| E como seria bom que toda a Província olhasse para estes missionários da velha guarda com mais carinho e memória agradecida e visse neles o exemplo a seguir! Em tempos que nos faltam modelos credíveis a imitar e a seguir, como seria proveitoso olharmos para estes exemplos de vida e vermos que é, neles, que está, a essência da nossa vocação espiritana.
O Pe. Carlos Gouveia não saiu de Cabo Verde sem as devidas homenagens e agradecimentos. Se há coisa que o povo cabo-verdiano tem é o seu sentido de gratidão e apreço pelo trabalho dos missionários. Teve um domingo, onde, na Paróquia de Santiago Maior, celebrou uma eucaristia de ação de graças e o povo agradeceu publicamente o seu trabalho e dedicação nesta comunidade paroquial.
Na paróquia de São Miguel Arcanjo, onde ultimamente se encontrava, aproveitou-se a grande multidão presente na festa de Nossa Senhora do Socorro, para lhe fazer um reconhecimento muito sentido e fraterno.
A Câmara Municipal de São Miguel fez questão de lhe fazer uma homenagem pública no salão nobre dos Paços do Concelho. O Presidente da Câmara, Dr. Herménio Fernandes, dizia, na ocasião: em sentido de reconhecimento por toda a sua entrega e trabalho em prol deste município e do país, a edilidade micaelense presta-lhe uma singela homenagem na presença do pároco local, irmãs, autoridades municipais e colaboradores da edilidade. A edilidade entendeu ser justo reconhecer todo o trabalho deste, que considera ser, um grande missionário, que esteve sempre disponível em todos os momentos para cooperar em tudo que fosse necessário. O edil enalteceu ainda o caráter e humanismo do Padre Gouveia, que regressa, em breve, a Portugal, para, segundo o próprio Pe. Gouveia, estar em paz, na tranquilidade e preparar sua “viagem definitiva”.
Hora di bai ta dexe sodadi.
Um obrigado muito grande a este missionário do Espírito Santo