26º Domingo do Tempo Comum
À história que Jesus conta no texto do evangelho deste domingo parece faltar uma terceira alternativa de resposta à ordem do pai – “filho, vai trabalhar para a vinha” – e que, à partida, até seria a mais normal: dizer: “sim, eu vou” e ir mesmo! Aliás é para esta meta que S. Paulo aponta na segunda leitura, ao apresentar-nos Cristo como o modelo a ser imitado: “Ele, que era de condição divina, não se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si próprio, assumindo a condição de servo”. Ele, de facto, disse: “sim, eu vou” e foi mesmo, cumprindo integralmente a vontade do Pai.
Só que em nós a harmonia entre a vontade e a sensibilidade é algo que está por realizar e, por isso, nem sempre a inteligência e a vontade assumem o comando das nossas decisões. É por isso que, sendo nós um ser em construção, para Deus não conta tanto o que fomos, mas aquilo que procuramos ser: não estamos irremediavelmente salvos ou condenados à partida, mas as contas só serão feitas no fim.
A estranheza revelada em relação a esta maneira do Senhor proceder tem a ver com a nossa preferência por um tipo de determinismo fatalista, que divide o mundo em ‘maus’ e ‘bons’, sem possibilidade de alteração, o que faria com que o destino de cada um estivesse definido à partida, daí resultando uma desresponsabilização e um descompromisso mais cómodos. Aliás, este determinismo fatalista está mais espalhado do que possa parecer – basta reparar nas expressões frequentes: “é o destino”, “já tinha que acontecer”.
Também é da experiência de todos que a obediência se torna mais fácil, quando a nossa sensibilidade está para aí voltada: “quem corre por gosto, não cansa”! Mas não sendo isso o que com mais frequência acontece, S. Paulo recomenda-nos que trabalhemos os nossos sentimentos e afetos – “afeiçoai-vos às coisas do alto” – para termos em nós “os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus”.
De facto, não podemos ignorar ou desprezar a dimensão dos nossos sentimentos e afetos – não somos vontade pura, para cairmos num voluntarismo férreo e seco, já que a dimensão afetiva faz parte da nossa personalidade e é por ela que podemos lubrificar a nossa relação com os outros. Se não podemos capitular perante o “segue o que sentes”, também não podemos cair no “nega o que sentes”. O caminho a percorrer é procurarmos o “sente o que deves”, para que a nossa resposta ao Senhor seja não só firme, mas também alegre e entusiasta, como a de Jesus: “aqui estou, ó Pai, para fazer a tua vontade”!