5º Domingo do Tempo Comum
É flagrante nos textos de hoje o contraste entre um dia na vida de Cristo e em Job! De facto, esta figura bíblica é-nos apresentada como alguém esmagado não só pelo peso do sofrimento físico, psíquico e social que a doença da lepra lhe acarreta, mas também por uma falta de sentido para a situação por que está passando.
Comparando-se ao soldado, ao escravo ou ao mercenário e, sobretudo, apresentando-se como quem foge do momento presente, Job aparece-nos como alguém a quem faltam razões para viver, a quem falta um sentido para uma vida assim. Mas, nesta escuridão bem pesada, ainda brilha uma luzinha de esperança, que o leva a voltar-se, apesar de tudo, para Deus: “Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade”.
Ao contrário, o dia de Cristo aparece bem cheio de atividades, mas sobretudo cheio de luz: encontra tempo para a oração comunitária na sinagoga – era dia de sábado -, para fazer o bem, para descansar, para a oração pessoal e para o cumprimento da sua missão de evangelizador!
Vivendo nós numa cultura em que toda a gente se queixa da falta de tempo – mesmo em situação de confinamento -, não será essa uma falsa questão? É verdade que nunca teremos tempo para tudo o que queremos ou pretendemos fazer. Por isso, somos obrigados a fazer escolhas, a definir prioridades, a determinar o que é mais importante para nós. Então, quando, para nos desculparmos, dizemos que não tivemos tempo, estamos simplesmente a dizer que isso não era importante para nós!
Acima de tudo, precisamos de uma força unificadora e congregadora dos nossos esforços e energias, isto é, de um sentido para a vida!
No texto da segunda leitura, Paulo apresenta-se-nos como alguém que encontrou um sentido para a sua vida. Empregando embora expressões semelhantes às de Job (obrigação, escravo, tarefa imposta) os dias de Paulo estão cheios de sentido e de luz: “tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens”!
É este sentido, esta luz, esta força que faltam muitas vezes aos nossos dias. Imitemos S. Paulo e até teremos tempo para mais coisas! De facto, o melhor medicamento para o ‘stress’, para a ansiedade e para a maioria das depressões que por aí andam é deixarmos que seja Deus a pôr ordem na nossa vida, no nosso dia-a-dia, pois Ele é o único que pode salvar “os corações atribulados”!