4º Domingo do Tempo Comum
A liturgia deste Domingo, ao apresentar-nos a vocação de Jeremias, não pretende apenas dizer-nos como é que este homem foi chamado para ser profeta: ela quer-nos convidar a entrar no mistério da vocação.
Com efeito, o chamamento que Deus faz a cada um de nós não é fruto de um impulso repentino, para tapar um buraco ou preencher uma baixa de última hora. Bem pelo contrário: o dom da vida, as qualidades e dons, tudo o que constitui a nossa personalidade, foi pensado para estarmos em condições de corresponder ao convite do Senhor.
Também é bem compreensível que a nossa primeira reação seja de recusa, desculpando-nos com a nossa pequenez e fragilidade. Mas, isso já o Senhor o sabe muito bem! Se, apesar disso, Ele nos chama, há que abandonar-se, que confiar e colocar-se nas mãos desse Senhor que nos repete: “Não temas: Eu estou contigo!”
O texto de S. Paulo remete-nos para a questão central: o amor! “Pedro, amas-Me?” foi a única condição que Jesus apresentou àquele que chamava para ser o primeiro Papa. Quem, por amor, se confia ao Senhor experimentará, como Jeremias, o mistério da vocação: “Seduziste-me, Senhor, e eu deixei-me seduzir”! E, mesmo que quiséssemos dizer não, sentiríamos “um fogo devorador que se alojou nos ossos”, que não dá para ser apagado: “esgotei-me em refreá-lo, e não consegui”!
Mas, derrotas destas são a maior vitória que poderemos alcançar, pois numa cultura como a nossa em que as palavras ‘esforço’, ‘perseverança’ e ‘renúncia’ quase foram banidas dos dicionários por falta de uso, percebemos todos que a mensagem deste domingo é um desafio exigente para cada um e cada uma de nós, dado que hoje se procura o mais fácil, o mais cómodo, o mais agradável.
Por isso, esta exigência de esforço, de perseverança e de renúncia é a fatura a pagar por todos aqueles que queiram acolher esta Palavra de Deus e pô-la em prática. É por isso também que a cada um e cada uma de nós o Senhor repete: “Cinge os teus rins e levanta-te, para ires dizer tudo o que Eu te ordeno”!