Aqui está um antigo relógio de sol em granito. Trata-se de um instrumento antigo que marca a passagem das horas através da sombra. Mais do que uma curiosidade histórica, ele lembra-nos algo essencial: o tempo não nos pertence, é dom de Deus. Somos chamados a usar bem esse tempo – não apenas a “ter relógio”, mas a “ter tempo” para Deus, para os outros e para nós mesmos. O Tempo é de Deus.
Palavra de Deus
«Para tudo há um momento
e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu:
tempo para nascer e tempo para morrer,
tempo para plantar e tempo para arrancar o que se plantou,
tempo para matar e tempo para curar,
tempo para destruir e tempo para edificar,
tempo para chorar e tempo para rir…»
(Livro do Eclesiastes 3,1-8)
A vida é feita de fases que se sucedem, e o segredo está em viver cada uma com sabedoria e confiança. Não se trata de resignação fatalista, mas de aceitar que Deus conduz a nossa história e nos dá o momento certo para cada coisa.
Testemunho (Francisco Libermann)
O Venerável Padre Francisco Libermann (fundador dos Espiritanos) nos pode iluminar neste caminho. Antes da sua ordenação, uma doença grave (epilepsia) impediu-o de prosseguir o caminho normalmente. Em vez de desistir, aprendeu a esperar o «tempo de Deus», confiando que o Senhor abriria brechas no muro das dificuldades. Vejamos o que ele nos diz numa carta ao padre Eugénio Dupont, escrita a partir de Roma no dia 17 de agosto de 1840:
«As dificuldades de que me fala são grandes e, com o tempo, tornar-se-ão ainda maiores; mas até pode ser que não. Em todo o caso, não entendo como é que uma pessoa que tem um pouquinho de fé pode levantar semelhantes objeções. Se na Igreja se empreendessem apenas coisas fáceis, o que seria da Igreja? S. Pedro e S. João teriam continuado a pescar no lago de Tiberíades, e S. Paulo não teria deixado Jerusalém. Compreendo que uma pessoa presumida e fiada em suas forças possa imobilizar-se diante dum obstáculo, mas quando se conta com o nosso adorável Mestre, que dificuldade é que se pode temer? Só se pára ao chegar ao pé do muro; espera-se então com paciência e confiança que se abra uma brecha, depois segue-se em frente como se nada tivesse havido. Foi o que fizeram S. Paulo e os outros apóstolos». (In Antologia Espiritana, p. 199).
Reflexão: o tempo espiritual requer tempo
Vivemos numa cultura da impaciência, onde tudo é imediato: mensagens, serviços, entregas. Mas o caminho espiritual não pode ser vivido na pressa, nas correrias de cada dia. A oração, o discernimento e o crescimento interior exigem tempo, silêncio e perseverança. Santo Inácio de Loiola e Santa Teresa de Ávila lembram que a vida espiritual é uma subida lenta e gradual.
Meditação pessoal
- Como uso o meu tempo?
- Que importância dou a cada momento do dia?
- Sei parar, escutar e agradecer?
Uma história para pensar
Conta a lenda que um dia todos os animais se juntaram numa assembleia a fim de exporem os seus problemas. Pouco a pouco foram surgindo as queixas contra os humanos: «Eles tiram de mim o leite», disse a vaca; «de mim os ovos» bradou a galinha; e «de mim a carne para as linguiças», disse o porco a grunhir; e até a baleia protestou: «a mim matam-me para me tirarem o óleo».
Os lamentos continuaram durante muito tempo até que a lesma, cheia de coragem, levantando a cabeça e atraindo a atenção de todos, exclamou: «Eu tenho algo que os homens gostariam de pedir ou tirar, se eles pudessem, algo de que eles gostam doidamente e existe em mim até de sobra. Eu tenho TEMPO».
O tempo é um tesouro precioso – mas só o valoriza quem sabe parar:
- Parar para escutar o coração e sentir a vida que pulsa.
- Parar para contemplar a natureza e os rostos que nos rodeiam.
- Parar para abraçar o silêncio, onde encontramos Deus.
- Parar para redescobrir a alegria e a força de viver intensamente cada momento.
Oração
“Senhor do tempo e da eternidade,
diante de Ti somos como um relógio de sol:
não criamos a luz, apenas a recebemos.
Ensina-nos a viver o Teu tempo –
tempo para amar, servir, estudar, descansar e rezar.
Que o nosso coração esteja sempre aberto
para acolher Jesus, «o Sol nascente» que ilumina a nossa vida.” Amém.









