13º Domingo do Tempo Comum
Em contraponto com a falta de fé dos apóstolos revelada por ocasião da travessia tormentosa do Mar da Galileia – recordar o texto do passado domingo -, o evangelista Marcos apresenta-nos hoje dois exemplos surpreendentes de fé: um chefe de sinagoga, cuja filhinha estava às portas da morte, e uma pobre mulher que, há doze anos, sofria de hemorragias e tinha gasto todas as suas economias sem conseguir melhoras.
Trata-se de duas situações que hoje classificaríamos de clinicamente irreversíveis, perante as quais mais nada haveria a fazer. Mas os seus protagonistas não se resignam a tal fatalidade e voltam-se para Jesus: o chefe da sinagoga pede explicitamente a Jesus que venha impor as mãos à sua filha; por sua vez, a doente, sorrateiramente, mas de forma resoluta e anónima, procura a todo o custo tocar em Jesus.
De facto, a Palavra do Senhor deste domingo confronta-nos com três realidades, cujos desafios procuramos ao máximo evitar: a doença, a morte e a miséria. E porquê? Porque mexem com o nosso comodismo e nos trazem o sabor amargo da nossa finitude. Mas, nem por isso elas deixam de existir e, mais cedo ou mais tarde, somos mesmo confrontados com todas ou algumas delas. Vale, por isso, a pena deixarmo-nos interpelar por esta Palavra e acolher a iluminação que ela nos oferece.
O nosso Deus é o Deus da vida. E as duas curas hoje narradas estão relacionadas de uma forma direta com as fontes da vida: esta mulher estava impedida de conceber e a jovem moribunda ficava-se às portas do seu período de fecundidade. Deus garante-nos assim que não é “o poder da morte que reina sobre a terra”. A verdadeira morte é a da inveja e do pecado. Por isso, a doença e a morte fazem parte da nossa condição finita. Mas a morte transformou-se, em Cristo Jesus, em “dies natalis”, dia do nascimento para a vida eterna.
Face à pobreza e à miséria, é frequente ouvir-se: “se eu fosse rico ou me saísse o €uromilhões, faria isto, faria aquilo…”. S. Paulo, ao contrário, diz-nos que Jesus “se fez pobre para nos enriquecer pela sua pobreza”! Na verdade, só quem se sente pobre é capaz de se abrir aos outros. A solidariedade e a partilha fazem-se a partir da pobreza e não da riqueza, pois esta fecha-nos em nós próprios e retira do nosso coração o espaço e a atenção para os outros.
Por isso, não esperemos por ser ricos para ajudar os outros! É que também pela solidariedade e pela partilha podemos ser geradores de vida! Na verdade, a verdadeira fé leva-nos até Deus, “fonte de vida”, que, por sua vez, nos torna geradores e portadores de vida e de esperança para os nossos irmãos!