16º Domingo do Tempo Comum
A tenda de Abraão, em Mambré, e a casa de Marta, Maria e Lázaro, em Betânia, são apenas dois referenciais de um largo e bem longo rio de hospitalidade, que tem sido a marca de referência do ser e agir cristãos ao longo dos tempos e dos lugares.
De facto, a atitude de Abraão em relação aos três desconhecidos que passam junto da sua tenda ou o acolhimento que esta família de três irmãos sempre dispensava a Jesus, são concretizações do jeito do bom samaritano, daquele estilo de “ver com o coração” de que nos falou Bento XVI em Fátima.
A Carta aos Hebreus, referindo-se ao episódio escutado na 1ª leitura, faz a seguinte afirmação: “Não vos esqueçais da hospitalidade, pela qual alguns, sem o saberem, hospedaram anjos” (Hebr. 13,2). Por sua vez, Pedro recomenda a todos os cristãos: “exercei a hospitalidade uns para com os outros, sem murmuração” (1Ped.4,9).
Fiel às orientações do seu Fundador, a Igreja sempre prestou especial cuidado aos deserdados de pão, de saúde ou de família. “Esta ação humanitária e espiritual da Comunidade eclesial para com os doentes e os sofredores, ao longo dos séculos” constitui um “património precioso”, que urge preservar e aumentar, afirmava Bento XVI, anos atrás, por ocasião de um Dia Mundial do Doente. Basta recordar que a palavra ‘hospital’ vem de ‘hospitalidade’, mostrando assim que a prioridade do ‘cuidar’ deve prevalecer sobre o empenho no ‘curar’, orientação que, curiosamente, já vem do próprio Hipócrates: “cuidar: sempre; curar: às vezes”!
Neste mundo indiferente, desconfiado e, até, hostil, são inúmeros aqueles e aquelas que demandam um porto de abrigo, sejam eles migrantes ou refugiados, a quem, por causa da cor, da raça ou da religião, não é reconhecida a sua dignidade de pessoa ou todos aqueles que, mergulhados em pavorosa solidão, procuram um oásis de acolhimento, de compreensão e de calor humano. E nós até sabemos que “quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me acolhe recebe Aquele que me enviou” (Mt. 10,40).
Por isso, ‘Betânias’
precisam-se, muitas e já, para que o calor da nossa hospitalidade derreta o
gelo de tanta indiferença, de tantos egocentrismos e das xenofobias crescentes,
e faça brilhar para todos o sol da esperança!