No Convento da Graça, em Lisboa, esteve patente uma exposição de arte sacra de 40 artistas italianos denominada “Sacre Visioni”. Paralelamente, na mesma ocasião esteve em exposição “Toque Divino”, uma coleção de obras feitas com pregos e parafusos, do artista Bruno Loureiro. No total, são “250 mil pregos, incluindo duas peças que contam com mais de 53 mil pregos cada”. Confirmo. Ver a imagem de Cristo feita com milhares de pregos não é apenas original, é uma aula de catequese sobre verdades do cristianismo.
Os pregos têm muito a ensinar-nos. Não me refiro à adivinha: “Por que o prego é bem educado?” Resposta: “Porque ele nunca entra sem bater.” O ensinamento a que me refiro é outro: eles unem, permanecem no seu lugar, dão unidade e sentido ao que sem eles seria caos.
Há uma parábola que corre na internet que conta que foi construída uma igreja que pela sua beleza maravilhava os fiéis e atraía a visita dos turistas. Não faltavam os elogios à beleza do teto, à harmonia do espaço, à luminosidade dos vitrais, à inspiração das imagens. Um prego, na madeira do telhado, tudo ouvia e com tudo se entristecia. Pois se ninguém o elogiava, ele que estava sempre segurando o madeiramento; nem sabiam da sua existência… Decidiu, pois, desistir da sua tarefa, e a pouco e pouco foi deslizando para sair dali, até que se desprendeu e deixou-se cair no chão. Quando vieram as chuvas fortes, onde faltava aquele prego a madeira começou a ceder, depois as telhas também cederam e a água foi entrando e alagando o teto, depois o estuque foi-se desfazendo e caiu no chão, enterrando o pequeno prego. Lá em cima, o prego era ignorado mas útil na sua missão; agora, no chão lamacento, continuava ignorado mas inútil.
Uma imagem de Cristo formado com milhares de pregos tem sentido. Cada um é discreto e parece não fazer diferença, mas juntos mostram o rosto do Salvador: porque estão unidos, porque cada um ocupa o lugar que sem ele ficava vazio, porque permanecem e não desistem, porque não deixando de ser pregos cumprem uma missão que os ultrapassa.
No dia 4 de novembro a Igreja celebra memória de São Carlos Borromeu, bispo de Milão no século XVI. É conhecida a sua ação pastoral na renovação da Igreja do seu tempo, bem como social durante a peste que assolou a Itália nessa época. Ele dedicou uma atenção especial a um prego particular: um dos pregos usados na crucifixão de Cristo, conservado como relíquia na catedral de Milão, iniciando um rito de exposição pública e veneração que ainda hoje se repete em Milão. Não surpreende esta atenção. Afinal, o lema episcopal de são Carlos Borromeo era uma só palavra: “Humilitas”. Sim, humildade como os pregos que juntos mostram Cristo.
Foto de destaque: facebook de Bruno Loureiro
Os pregos têm muito a ensinar-nos. Não me refiro à adivinha: “Por que o prego é bem educado?” Resposta: “Porque ele nunca entra sem bater.” O ensinamento a que me refiro é outro: eles unem, permanecem no seu lugar, dão unidade e sentido ao que sem eles seria caos.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva