2º Domingo do Tempo Comum
São tantas e tão variadas as mudanças que acontecem nos nossos dias, que nos é permitido afirmar que vivemos num tempo de mudança.
E sabemos como, perante a mudança, tanto podemos optar por ficar presos ao passado, num saudosismo amargo que leva a diabolizar e amaldiçoar toda e qualquer novidade, como podemos deixar-nos arrastar pelo seu turbilhão e ficar sem raízes, sem rumo e sem norte, devorados pela busca desenfreada de estar sempre em dia, isto é, de permanecer na crista desta onda gigantesca que é a mudança.
Também a palavra do Senhor deste domingo nos fala de mudança. Mas de outra mudança: aquela que apenas pode ser captada nas correntes profundas e que – e só ela – dá pé e sentido à nossa vida; uma mudança que não é inventada pelos alimentadores de ilusões e de alienações, mas por Deus no seu grande amor por nós. A nós, cristãos, compete-nos percebê-la, acolhê-la e colaborar com ela.
É essa mudança que está anunciada e prometida no texto de Isaías, segundo o qual Deus não se dará descanso, enquanto não fizer “despontar a justiça como a aurora e a sua salvação não resplandecer como facho ardente”. A sua paixão por nós vai levá-lo a mudar a nossa sorte e situação: de terra ‘deserta’ e gente ‘abandonada’ para “preferida e desposada”.
Por sua vez, a presença interventiva de Jesus naquele casamento, realizado em Caná, mostra-nos Cristo a realizar essa mudança, simbolizada pela transformação da água em vinho – e vinho bom e abundante! Mas, o evangelista regista que “os discípulos acreditaram n’Ele”, isto é, abriram-se à grande mudança, à mudança verdadeira, aquela que a presença do Verbo Incarnado no meio de nós veio dar início.
Finalmente, S. Paulo diz-nos que essa mudança acontece sempre que somos capazes de, pela força do Espírito Santo, encarar as diferenças – que existem mesmo – não como fonte de discriminação, de prepotência ou de inveja, mas como forças complementares, capazes de transformar a inevitável interdependência em ocasião de comunhão, de solidariedade e de partilha.
O caminho para eliminar as discriminações não é, pois, negar as diferenças, mas é aceitá-las como oportunidade e desafio para maior compreensão e solidariedade, à semelhança de um puzzle em que só quando todas as peças, por mais pequenas que sejam, estão colocadas e no seu lugar próprio, é que temos o resultado final.
Só esta mudança nos permitirá enfrentar com serenidade as constantes mudanças a que, inevitavelmente, estamos sujeitos e com ela poderemos ajudar os nossos irmãos a não caírem nem na resistência cega a toda a mudança, nem a serem engolidos pela sua voragem insaciável.
Neste mar tempestuoso das mudanças, nós, cristãos, somos chamados a, com a força do Espírito Santo, nos tornarmos timoneiros firmes, lúcidos e serenos, e a servirmos de farol para os nossos irmãos. Que o Senhor nos ajude a sermos todos fiéis a esta missão!