6º Domingo da Páscoa
É pela planta da Igreja apresentada no texto do Apocalipse, embora ela nunca tenha inspirado – creio – qualquer arquiteto para a criação do projeto de uma igreja, é por ela que nós, chamados a colaborar na sua construção, nos devemos orientar e tentar concretizá-la.
Com efeito, neste texto encontramos a verdadeira planta da Igreja, da Igreja viva, daquela Igreja que Deus sonhou e que vai construindo. E os seus traços característicos estão aí bem expressos, a saber: à solidez, de ‘grande e alta muralha’ e total abertura missionária a todos os povos, através das ‘doze portas’- sempre abertas! – acrescenta a apostolicidade, pois construída com ‘doze reforços’; completa-a ainda uma fortíssima luminosidade, que tem origem no ‘Cordeiro’ e – espante-se! – a ausência de um lugar de culto!
Embora não seja fácil a cada um de nós rever-se neste projeto, a verdade é que todos somos chamados a colaborar na sua construção e apesar de os obstáculos e desafios, tal como no princípio do Cristianismo (2ª leitura), serem muitos e variados, podemos contar com a força do Espírito, prometido por Jesus e enviado pelo Pai, para a realização desta tarefa.
Por isso, vale a pena aprendermos as lições que a narrativa sobre o primeiro Concílio da história da Igreja nos oferece. De facto, a decisão final – “o Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação além destas que são indispensáveis” – pode ainda hoje ajudar-nos a não confundir o essencial, comum para todos, com o secundário e relativo, que pode [e deve] variar com os tempos, os lugares e as culturas. Convenhamos que este discernimento e esta abertura ao pluralismo não estão muito no nosso jeito de julgar, de decidir e de agir.
O relato completo dos trabalhos do primeiro Concílio da Igreja (Atos, 15) permite-nos consciencializar a originalidade da ‘democracia cristã’, tantas vezes ignorada ou intencionalmente esquecida: as decisões na Igreja, quando tomadas no lugar certo e de forma participada e dialogada, comprometem o próprio Espírito Santo. Por isso, em Igreja, há lugar para pontos de vista diferentes e liberdade para os defender, mas não há lugar para ‘oposição’ – pela fé, acreditamos que o Espírito Santo deu o seu ‘placet’ às decisões corretamente tomadas. Há tempos, o papa Francisco comentava assim este texto: “O caminho da Igreja é este: reunir-se, unir-se juntos, ouvir-se, discutir, rezar e decidir. Esta é a chamada sinodalidade da Igreja, na qual se expressa a comunhão da Igreja. E quem faz a comunhão? É o Espírito! De novo é ele o protagonista. O que nos pede o Senhor? Docilidade ao Espírito. O que nos pede o Senhor? Para não termos medo ao ver que é o Espírito que nos chama”.
É para esta viagem no ‘comboio da sinodalidade’ que o Papa insistentemente nos convida, para ela nos pôs em marcha através da participação a todos os níveis na preparação do próximo Sínodo dos Bispos e deseja que seja o modo próprio de todas as comunidades cristãs viverem e atuarem.
Deste modo, será mais fácil a todos crescermos naquela paz que Jesus nos oferece e estaremos mais capacitados para vermos em todos os acontecimentos, mesmo nos menos agradáveis, a mão de Deus que, pelo Espírito Santo, vai escrevendo e construindo a história da salvação!