Solenidade de Cristo, Rei do Universo
Cristo, ao afirmar, que o seu reino “não é deste mundo”, não fez um favor aos políticos, que pretendem distanciar a política da religião, excluindo qualquer interferência desta sobre aquela. Também não dá justificação a qualquer alienação religiosa que afaste os crentes do compromisso da construção da sociedade terrena em nome da ‘cidade futura’, situando-a exclusivamente para além da morte. O que Ele nos quis afirmar é que a sua forma de reinar é baseada exclusivamente no princípio da verdade: “vim ao mundo para dar testemunho da verdade”, e na atitude de servir: “não vim para ser servido, mas para servir”.
Com efeito, vivemos num tempo em que as pessoas, pretendendo defender uma liberdade absoluta, caem na pior das escravidões, que é a sujeição aos caprichos próprios. Neste contexto, a realeza de Cristo soa mal e, mesmo para nós, cristãos, ela é interpelação a opções nada fáceis de tomar, quer porque chocam com a nossa inclinação natural, quer porque nos colocam em ‘contramão’ e em sentido oposto à marcha deste mundo. Na verdade, também para nós é muito forte a tentação de transformarmos Cristo num ‘reizinho’, do qual podemos dispor de acordo com as nossas conveniências e humores.
Daí que, para alinharmos na realeza de Cristo, se nos torne indispensável uma opção aprofundada e esclarecida, uma determinação constantemente renovada e uma firmeza alimentadas pela oração, pela Palavra de Deus, pelos sacramentos e pela vivência comunitária.
Há que reconhecer que hoje é verdadeira ‘loucura’ proclamar a realeza de Cristo de forma coerente, isto é, com a vida, as atitudes e as palavras, pois isso implica optar sempre e em todas as circunstâncias pelos valores da verdade, da justiça e da paz, e não se envergonhar em qualquer ambiente de se apresentar como ‘cristão’, pois a realeza de Cristo precisa de ser celebrada, não só na Liturgia, mas também testemunhada em todas as circunstâncias da vida.
E porque se trata de tarefa nada fácil, pois se trata de ser ‘resistência’ a toda a espécie de idolatria que grassa por esse mundo fora, em que todos os meios são justificados pelos fins a alcançar, também nós precisamos de ver, como S.to Estêvão, “o céu aberto e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus” (Act. 7,56), a quem, como afirma Daniel, foi entregue “o poder, a honra e a realeza”, e a quem “todos os povos, nações e línguas” hão de servir.
Que a celebração da Solenidade de Cristo-Rei nos ajude, pois, a melhorar a qualidade da nossa visão, para podermos pertencer de verdade ao seu reinado, combatendo com as mesmas armas que Ele usou!