O trabalho é uma atividade central na vida social e económica do indivíduo e da sociedade. O trabalho identifica a pessoa e liga-a aos outros. Nalguns casos extremos, (especialmente nos casos das profissões mais especializadas, mas não só) a pessoa é conhecida pelo seu trabalho ao ponto de substituir o seu próprio nome.
Nos tempos que correm e, perante a avalanche dos profissionais que vão inundando os mercados, as formas encontradas pelas entidades patronais para fazer face às necessidades da produção passam pelo recurso aos estagiários não remunerados, pela oferta de emprego apenas por um certo período de tempo e, sempre que possível, pela admissão de pessoas bem qualificadas no regime de voluntariado.
Salvo raras excepções, longe vão os dias em as empresas recrutavam os alunos nos últimos anos dos seus estudos ou que os empresários andavam nas ruas a recrutar futuros interessados para as suas empresas. O que temos hoje são, pelo contrário, caixas e caixas de Curriculum Vitae de inúmeros candidatos, os quais, nalguns casos, nunca chegarão a ser vistos e, muito menos, considerados para uma possível vaga.
O trabalho, aquilo que está na nossa origem, torna-se precário. Jesus para responder aos Judeus que O perseguiam por ter curado um homem doente no sábado disse: «O meu Pai continua a realizar obras até agora e Eu também continuo» (Jo 5,17). A realidade é que se gera um mal-estar entre nós e uma dimensão intrínseca da vida, ao reduzirmos o trabalho ao ganha-pão, em vez de continuarmos a ver nele aquilo que nos faz semelhantes ao Pai.
Uma das razões que está na base da precariedade é precisamente a fuga às responsabilidades. Cada vez mais os empregadores querem empurrar as responsabilidades fiscais – impostos de saúde e os descontos para a segurança social – para os empregados. Esta fuga de responsabilidade institucionaliza, aos poucos, a precariedade e as suas consequências.
O trabalho precário tem uma ampla gama de consequências na produção. Cria, desde logo, um ambiente de especulação entre as partes, pois as entidades patronais por, razões de instabilidade do mercado; contratam candidatos, a tempo certo, e estes acabam por nunca dar o seu melhor em virtude da incerteza quanto ao seu futuro, o que desencadeia uma produção mais pobre em quantidade e em qualidade.
Porém, quando os trabalhadores se vêem como combustíveis na máquina de produção da entidade onde desenvolvem o seu trabalho, fazem de tudo para não se perderem no processo da produção.
A experiência da precariedade também corrói a identidade e promove o anonimato de tantos trabalhadores que sustentam as empresas em que trabalham. O trabalho precário cria insegurança e afecta vários lares e famílias. A incerteza sobre o futuro pode condicionar a tomada de decisão dos jovens casais quanto à opção pelo casamento, pelos filhos e respectivo número de crianças; aspetos estes, considerados fundamentais para o bem da humanidade.
Além disso, nota-se também que o número de famílias de dois assalariados vai aumentando, não porque as pessoas querem trabalhar, mas porque sentem a necessidade de aumentar o seu tempo de trabalho para fazer face às despesas de renda e demais modernices de vida. A precariedade do trabalho gera pessoas instáveis, relações precárias, uma relativização de paz e justiça e, em suma, uma vida precária.
O trabalho precário pode levar a uma falta de compromisso social, indiciado por declínios na participação em associações voluntárias e em organizações comunitárias, bem como pela falta de confiança entre pessoas e entidades.
Entendo que podemos combater a precariedade laboral e promover a dignidade do trabalhador se as associações empresariais e as entidades patronais estiverem dispostas a cooperar com os ensinos profissional e superior na formação dos futuros empregados e, até, na formação dos próprios empresários.
Simon Ayogu