Parece-nos, não poucas vezes, que a vida está organizada em ciclos e tende e repetir-se teimosamente. Parece, assim, que esta Páscoa foi apenas mais uma: Amêndoas e ovinhos de chocolate. Compasso pascal – com uns gritos de aleluia pelo meio – ou, simplesmente, mais uma jaculatória que usamos para nos despedirmos cordialmente com uns votos de boa Páscoa, ou de Santa Páscoa. Mas, efetivamente, o que muda em nós na Páscoa e com a Páscoa?
Nos textos da ressurreição, e nas aparições do ressuscitado, percebemos que o Vivente que se apresenta diante das mulheres e dos discípulos não é o mesmo, pelo menos em aparência, que com eles viveu três anos. Esse facto provocou neles as mais variadas reações desde a recusa em acreditar, expressa por Maria com o célebre «diz-me onde o puseste que irei buscá-lo» (Jo 20, 15); do modo como os apóstolos receberam o anúncio da ressurreição do Cristo pelas mulheres julgando-as em «delírio» (Lc 24, 11) ou os discípulos de Emaús que com Ele caminharam e apenas o reconheceram «ao partir do pão» (Lc 24,31).
Quase três dias após a morte de Jesus podemos imaginar a desilusão e o temor destes homens e mulheres que tinham apostado tudo naquele nazareno que “tinha passado a fazer o bem” e estavam em desilusão pela sua morte. Queriam voltar ao “quentinho” da pregação de Jesus e às “curas” espetaculares ou aos “milagres” sem precedentes. Queriam um ciclo que se repetisse.
A experiência que os evangelhos nos mostram relata as dificuldades da primeira comunidade em aceitar e integrar o grande mistério da Regeneração da História: A presença do Vivente, do Ressuscitado.
Este medo vemo-lo hoje na tentação de acharmos que a Páscoa faz parte do continuo ciclo rotineiro em que vivemos. Nasce da incapacidade de aceitarmos a novidade e fecharmos o coração e a razão ao ressuscitado. Queremos ficar no “quentinho” do nosso Jesus conhecido e não conseguimos dar o salto do medo para a novidade da Ressurreição. Estamos satisfeitos com as ideias e imagens que temos de Deus e da religiosidade cristã e não nos transformamos em obreiros da novidade do Ressuscitado por que não O Reconhecemos.
Talvez por isso tenhamos 50 dias para nos “acostumarmos” à ideia de que Páscoa nos coloca em caminho para a novidade do Ressuscitado e não nos permite ficar nos caminhos inférteis do passado.
Deixo-vos este mesmo desafio nas palavras do Papa Francisco na Exortação Apostólica que escreveu aos jovens:
«Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! […] Por mais que te possas afastar, junto de ti está o Ressuscitado, que te chama e espera por ti para recomeçar. Quando te sentires envelhecido pela tristeza, os rancores, os medos, as dúvidas ou os fracassos, Jesus estará a teu lado para te devolver a força e a esperança» (Chistus vivit, 1-2).