31º Domingo do Tempo Comum
As leituras deste Domingo não nos permitem que arrumemos cuidadosamente a celebração da Solenidade de ‘Todos os Santos’ e a comemoração dos ‘Fiéis Defuntos’ na gaveta do passado. Pelo contrário, dão-lhes um impulso de continuidade, para que nos tornemos, nós também, peregrinos cada vez mais decididos desse ‘caminho do Senhor’, expressão criada por S. Lucas (cf. Actos, 18,25) para expressar a novidade do Cristianismo.
De facto, o texto do Deuteronómio apresenta-nos como que o ‘sumário’ da fé veterotestamentária, afixado por toda a parte e constantemente repetido e recordado, para que ninguém se esquecesse de o pôr em prática, pois do seu cumprimento dependia a sua felicidade. Por isso, estas palavras deveriam estar não só gravadas no coração de cada crente, mas também ser meditadas, “quer estando sentado em casa, quer andando pelos caminhos, quando te deitas e quando te levantas”.
Por sua vez, o diálogo entre Cristo e um escriba não se limita a recordar e repetir Moisés, mas, bem ao contrário, traz ao segundo mandamento – “amarás o teu próximo como a ti mesmo” – um alcance verdadeiramente impensável, tornando-o igual ao do primeiro: “amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”!
A resposta do escriba, fazendo dos dois mandamentos um só, mostra que ele percebeu perfeitamente a mensagem do Mestre, ao afirmar que ‘o segundo era semelhante ao primeiro’, e que o seu pleno cumprimento é o culto verdadeiramente agradável a Deus. Este ‘caminho novo’ não assenta nos dez Mandamentos da Lei de Deus, mas, sim, no espírito e na prática das Bem-aventuranças.
O texto da Carta aos Hebreus apresenta-nos Cristo como o sacerdote desse ‘caminho novo’, porque tendo-o percorrido até ao fim, se tornou ele mesmo esse ‘caminho novo’: “Eu sou o Caminho”. Por isso, Ele pode-nos guiar, acompanhar e ajudar a percorrer esse mesmo caminho. De facto, a partir de Cristo já não dá para separar mais Deus do Homem, nem o Homem de Deus. Daí que o próprio Cristo tenha garantido: “tudo o que fizestes aos mais pequenino dos meus irmãos, foi a Mim que o fizestes” (Mt. 25, 40) e S. João afirme: “quem não ama o seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê” (1Jo. 4, 20).
Que o Senhor Jesus nos ajude a passarmos de uma prática ritualista e de uma vivência minimalista da nossa fé para o mandamento novo do amor, a fim de podermos nós também ouvir da boca do Senhor Jesus: “Não estás longe do Reino de Deus”!