Por estes dias escrevo a caminho de Santiago. Levo comigo um grupo já razoável de alunos do décimo primeiro ano para com eles experimentar a essência do humano longe dos aparatos tecnológicos do nosso tempo que sendo úteis, sem eles teria conseguido efetivar esta escrita, nos envolvem de tal maneira que nos esquecemos do essencial: somos peregrinos de nós próprios animados por um espírito que, não poucas vezes, temos dificuldade em discernir pela azáfama de um dia a dia cada vez mais acelerado.
O caminho potencia o discernimento ajudando a perceber as metas e o chamamento do Espírito em cada um! Os longos dias de caminhada, o contacto com a natureza, com o outro que passa e com o silêncio que fala, permitem aos caminhantes aprofundar a sua experiência para lá da epiderme dos dias onde tantas vezes tudo parece fogaz e instantâneo. Aqui aprende-se a valorizar uma peça de fruta ou um bom banho quente. Um sorriso, uma lágrima ou um abraço parecem ter laivos de eternidade que nos levam a fazer um processo contrário à norma dos dias: De dentro para fora, e não de fora para dentro. Este exercício leva-nos à perceção de uma Verdade para lá de nós mesmos!
Duas coisas são essenciais na viagem: a mochila, onde cada um carrega o que julga essencial para a viagem, e o bordão. Com um e outro se podem estabelecer significativas comparações com a própria vida e para o vital discernimento: que mochila carrego eu que me impede de efetivar o potencial que em mim habita? Por outro lado sou bordão de quem? Sim! Quem apoio, ajudo e amparo nesta mesma vida…
Por estes dias em que a Quaresma termina e se aproxima o Domingo de Ramos faço memória do Mestre e da sua caminhada para a Páscoa. Lembro-me Dele na etapa mais dura. O que pensaria Ele sabendo o que poderia significar aquela Páscoa? Como é que olhou para os discípulos, que o rodeavam, e estavam contentes por irem à capital do seu país e ao Templo?
Naquele caminho da Galileia para Jerusalém o que foi para ele mochila e bordão? O que o atrasou e onde se apoiou Ele para discernir o Bem Maior na sua ação concluída na sua paixão, morte e Ressurreição? Quando puderem façam a experiência! Buen Camino!