22º Domingo do Tempo Comum
A Palavra do Senhor deste domingo prolonga e completa a resposta à pergunta do domingo passado: “esforçai-vos por passar pela porta estreita”. De facto, os caminhos da verdadeira humildade são os que mais seguramente nos levam à entrada do Reino dos Céus, pois Deus “prepara uma casa para o pobre” [e o humilde], enquanto que a “árvore da soberba cria raízes” bem fundas no coração do orgulhoso.
E não se trata de mera estratégia para se conseguir o fim desejado – trata-se da verdade sobre cada um de nós. Com efeito, não é nas passarelas das revistas ou da televisão, mas nas urgências e enfermarias dos hospitais que nós encontramos a resposta à questão: que(m) sou eu?
Foi, sobretudo, S. Paulo quem fez o aprofundamento da virtude da humildade. Nos seus escritos, encontramos, entre muitos outros, estes ensinamentos:
– “Vejamos: o que é que possuis, que não tenhas recebido?” (1Cor. 4,7);
– “É de Deus que nos vem toda a nossa capacidade” (2Cor. 3,5);
– “Se alguém se julga alguma coisa, engana-se” (Gal. 6,3-5)
– “Como eleitos de Deus, revesti-vos de sentimentos de humildade” (Col. 3,12)
Mas o maior hino à humildade, encontramo-lo na Carta aos Filipenses: “Cristo Jesus, que era de condição divina, não reivindicou o seu estatuto, mas humilhou-se a si próprio, assumindo a condição de servo… Por isso, Deus o exaltou e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes…” (Fil. 2,5-11).
No texto de S. Lucas, a humildade está associada à gratuidade: aquilo que sou, aquilo que tenho foi-me dado. É tudo dom de Deus para ser gerido em atitude de serviço e de complementaridade, e não para me sobrepor aos outros: só pela humildade posso aceitar os outros como companheiros, com os quais partilhar o meu ‘pão’, em vez de neles ver adversários e concorrentes.
Por usa vez, a Carta aos Hebreus lança as raízes da humildade no próprio Deus! O Deus terrível da aliança do Sinai foi substituído por um Deus de quem nos aproximamos confiadamente em cada Eucaristia. Ao Deus todo-poderoso do Antigo Testamento sucede o Deus da incarnação, que se aproxima dos homens na fragilidade de uma criança, nascida no seio de uma família modesta e sem títulos. De facto, o Deus que em Jesus Cristo se aproxima de nós trocou a omnipotência divina pela ‘impotência’ do amor e pela humilhação da cruz. É a este Cristo, desprezado, maltratado e pregado no madeiro da cruz, que Deus exalta, dando-lhe “o nome que está acima de todos os nomes”.
Quem percebeu isto muito bem foi Maria, que, no seu Magnificat, canta Deus como aquele que “derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes”. Vivendo nós num tempo em que “cada um procura subir até atingir o nível da sua incompetência” (princípio de Peter), que Ela nos ensine a grandeza da humildade!