2º Domingo da Páscoa
Da Palavra de Deus deste 2º domingo da Páscoa – designado por João Paulo II “Domingo da Divina Misericórdia” – não sei que mais destacar: se a teimosa, mas para nós benéfica, incredulidade do apóstolo Tomé, ou o novo estilo de vida, que a força da Ressurreição desencadeou no coração dos crentes.
Com efeito e graças à teimosia deste Apóstolo, já não precisamos de “ver para crer”! Desde que Tomé ‘viu’ com as mãos, não restam mais dúvidas sobre a ressurreição do Senhor: Jesus está mesmo vivo! Mas, mesmo em Tomé, o adágio não se aplica totalmente, pois ele acreditou para além do que viu: viu o homem Jesus e acreditou que era Deus: “meu Senhor e meu Deus”. Por isso, como cristãos, devemos inverter o adágio e dizer: ‘crer para ver’, pois é pela fé que podemos ver muito para além daquilo que os nossos olhos enxergam!
E só uma fé assim consegue explicar o que acontecia na primeira comunidade cristã de Jerusalém, que nos é apresentada, pintada em cores vivas, onde se destacam a solidariedade e a partilha que caracterizavam “a multidão dos que haviam abraçado a fé”, pois “tinham um só coração e uma só alma” e entre eles se distribuía a “cada um conforme a sua necessidade”.
Esta maneira de ser, de estar e de se relacionar não é fruto de um decreto, nem foi imposta pela força, nem surge no contexto de uma situação generalizada de fome como a que veio a acontecer anos depois (referida em Gal e 2Cor), mas é o resultado espontâneo e lógico de quem “nasceu de Deus e ama todos aqueles que Ele gerou”, como nos diz S. João.
Este estilo novo de relações sociais contrasta profundamente com as relações interesseiras que vigoram nos dias de hoje, marcadas pela exploração e pela indiferença, pelo medo e pela desconfiança.
Estamos, por isso, perante um texto inspirador para a resposta que os cristãos e suas comunidades estão desafiados a dar face às situações de pobreza, de fome e de miséria que constantemente vêm aumentando e agravando de forma acentuada. E não podemos refugiar-nos no coro dos que apenas criticam tudo e todos ou descarregam toda a responsabilidade nos poderes instituídos. Não é com crítica fácil e com dedos inquisidores, mas sim com gestos e iniciativas concretas que esta crise precisa de ser enfrentada.
Com efeito, o “partir o pão” tornou-se não só o indicativo da Ressurreição e da Eucaristia, mas também o programa para todos os crentes. Foi isso que os primeiros cristãos compreenderam e puseram em prática.
Aliás, não pode haver outro caminho para quem saboreou a Misericórdia de Deus, de que a Ressurreição de Cristo é a proclamação máxima. Como diz S. Paulo, também nós conhecemos a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Ele, embora fosse rico, tornou-se pobre por nossa causa, para, com a sua pobreza, nos enriquecer a todos” (cf. 2Cor. 8,9).
Cabe a nós, hoje, sermos testemunhas credíveis da Ressurreição de Cristo e da Misericórdia Divina, partilhando alegre e generosamente com os nossos irmãos o que somos e temos, pois a nossa maior e inesgotável riqueza é o Senhor Jesus Ressuscitado!