Na hora que escrevo estamos em “tempo de reflexão” após uma campanha para as europeias. Durante um mês esgrimiram-se argumentos sobre o projeto europeu, o lugar de Portugal, e as tradicionais promessas de mais dinheiro cá para o “burgo”. Hoje entram no país nada menos do que doze milhões e meio de euros por dia!
Não sei, portanto, a esta hora, quantos portugueses largaram o verão antecipado para votar, mas sei que em 2014, de acordo com a Pordata, 66,2% dos eleitores se abstiveram de o fazer. Em 1987 a taxa de abstenção situou-se em apenas 27,8%.
Porque será então que nos desiludimos, em tão pouco tempo, com o projeto europeu se ele continua a ser o responsável por cerca de 80% de todo o investimento público no nosso país?
Não tenho, por certo, a resposta e sei que o desinteresse demonstrado não pode ser apenas explicado por uma variável, mas arrisco a extrapolar o que está na base deste desencanto: a memória!
Criámos gerações inteiras completamente esquecidas da ideia de “dignidade Humana” que aqui advogamos e que está na base dos ideiais de Robert Schuman, Melina Mercuori, Louise Weiss, Simone Veil e tantos outros que sonharam um lugar verdadeiramente humano, uma espécie de ‘Éden’ onde todos, com igual dignidade, habitem em paz e tenham lugar à mesa comum.
Em vez disso baseámos, (tempo demais?), a nossa crença de Europa no crescimento económico, no famoso défice, num autêntico desbaratar de património imaterial que se foi perdendo nas brumas da memória dos mais antigos e que hoje parece estar esquecido no histerismo coletivo que se verifica a cada ataque terrorista ou a cada barco que aporta à europa. Os nacionalismos renascem em todo o continente. Os consensos são cada vez mais difíceis de obter. O ser Humano fecha-se ao Outro e passa a olhá-lo como um animal de quem é preciso defender-se.
Ao escutar Rémi Brague, agonio com a ideia de que ele possa estar certo ao afirmar que hoje os cidadãos europeus são possuidores de uma liberdade “própria dos escravos”. O mesmo autor, filosofo francês, desafia-nos a reaprender o “conceito dignidade humana, que está na base da cultura europeia e que foi muito influenciado pela visão cristã do homem, isto é, um ser criado à imagem de Deus e dotado de uma dignidade especial”.
Aqui, todos nós, os cristãos, temos um dever grave perante os nossos concidadãos. Um dever de consciência de quem não pode calar uma paternidade que procede da benevolência do criador que nos quis “à sua imagem e semelhança”.