A autobiografia do Papa Francisco foi publicada já em dezenas de línguas, muitas delas com várias edições. Continuo a partilhar as marcas que a leitura deste livro gravou no meu coração. O Papa Francisco defende que a Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai, não uma alfândega, mas a casa paterna onde há lugar para cada um(…) deve chegar a todos, sem exceções’. Porque a Igreja é mulher, é decisivo que as mulheres tenham cada vez mais voz na Igreja. Devemos ‘desmasculinizar’ a Igreja, com a convicção de que ‘Maria é mais importante que Pedro, e o carácter místico da mulher é maior que o ministério’. ‘Não há razões que impeçam as mulheres de assumir papéis de liderança na Igreja’.
Os Bispos e Padres têm de ser pastores com o cheiro das ovelhas, não tradicionalistas ou fundamentalistas, ostentação de clericalismo. Recebeu de Bento XVI a ‘Caixa Branca’: ‘está tudo aqui dentro…Eu cheguei até aqui…agora cabe-te a ti!’ Francisco testemunha: ‘Bento XVI foi para mim um pai e um irmão (…); ajudou-me, aconselhou-me, apoiou-me e defendeu-me até ao fim’’.
Mas a abertura da Igreja a todos tem encontrado muitas resistências. O mesmo se diga das reformas da Cúria Romana e da Diocese de Roma. Nomeou o Conselho de Cardeais e implementou a caminhada Sinodal, mudou a lógica da escolha de novos Cardeais…
O Papa partilha momentos muito dolorosos, como a escuta das vítimas da guerra na República Democrática do Congo ou a visita ao Campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Beijou os pés dos líderes do Sudão do Sul. Há que lutar contra a globalização da indiferença.
As duas encíclicas sociais, (‘Laudato Si’ e Fratelli Tutti’) assentam no princípio de que tudo está interligado. A pandemia do coronavírus confirmou-o. Morreram mais de 20 milhões de pessoas, uma guerra mundial. Por isso, o Papa foi a Santa Maria Maior e a S. Marcelo e, depois, trouxe o ícone de N. Senhora e o Crucifixo da Igreja de S. Marcelo para a grande oração, à chuva, sozinho, na Praça de S. Pedro, difundida em todo o mundo pelos media. Todos na mesma barca a enfrentar a mesma tempestade!
As mudanças climáticas lançam desafios ecológicos enormes, implicando uma alteração de estilo de vida.
As viagens papais tiveram sempre escolhas cirúrgicas. O Papa quis ir, ainda em tempos de pandemia, ao Iraque, ‘visitar o avô Abraão’, lá onde os cristãos sobreviventes são de uma coragem à prova da fé. Visitou campos de refugiados e migrantes, denunciando um Mediterrâneo transformado em ‘frio cemitério sem lápides’.
Sobre os seus limites de saúde, o Papa assume-os. Diz que eles são mais visíveis na locomoção, mas defende que ‘a Igreja se governa com a cabeça e o coração, não com as pernas!’.
Deus é humor e um cristão triste é um triste cristão. Por isso, o Papa convidou ao Vaticano cem artistas humoristas. Conta diversas anedotas que envolvem Papas e defende que o mau humor nunca é sinal de santidade.
Os jovens são presente e futuro. A educação é um ato de esperança que do presente olha o futuro. O Papa recorda as quatro Jornadas Mundiais que presidiu: Brasil, Polónia, Panamá e Portugal: ‘cresço sempre em esperança quando encontro os jovens!’. E estamos já debaixo das asas da Inteligência Artificial que é a trincheira avançada da inovação tecnológica. Mas – para o Papa é claro – ‘a IA não pode construir um mundo sem coração’.
A Igreja tem raízes no futuro, na promessa de Cristo. São as testemunhas que movem os corações, é por atração que se cresce. Uma igreja fechada, assustada, é uma Igreja morta. Também a indiferença mata. A esperança nunca desilude. É a esperança que mantém em pé a vida, que a protege, a guarda, a faz crescer. A esperança é uma âncora. Vivemos o Jubileu que nos oferece a experiência que suscita no coração a esperança certa da salvação. Quando estamos um pouco cansados, o Senhor sabe mesmo levar-nos ao colo.
Conclui e resume o Papa: ‘para nós, cristãos, o futuro tem um nome e esse nome é esperança!’.
Esta é – em resumo – uma obra de leitura obrigatória para quem quer conhecer o Papa Francisco, perceber a Igreja como Família e a Missão como Encontro, Proclamação, Alegria, Misericórdia e Ternura, Fraternidade e Inclusão, Ecologia Integral e Sinodalidade.