O papa Francisco mandou entregar uma carta a Arauna Kandé (um jovem senegalês), a Ridhima Pandey (uma adolescente indiana), a Dadá Borarí (um chefe índio da Amazónia) e a Robin Martin e Greg Asner (um casal de cientistas do Havai, nos USA). Todos receberam este correspondência papal que trazia dentro um convite especial para irem a Roma encontrar-se com o Papa e explicar-lhe como vêem e como vivem as consequências das alterações climáticas. As Cartas chegaram sete anos depois de Francisco ter publicado a Carta encíclica ‘Laudato Si’ sobre o cuidado da Terra, a nossa Casa comum.
Estas cinco pessoas, bafejadas pela sorte de uma visita especial do carteiro são – juntamente com o Papa Francisco e Lorna Gold (presidente do Movimento Laudato Si) – os protagonistas do filme-documentário que guardaria como título, precisamente, ‘A Carta’! Foi lançado, com enorme sucesso no Youtube, a 7 de Outubro. Uma semana depois, tinha ultrapassado três milhões de visualizações, incluindo a minha, ‘espectador’ da primeira hora!
Choveram – como não seria de esperar outra coisa – comentários e mais comentários, publicados em todas as plataformas atuais de comunicação e debate, desde a imprensa, a TV, os media digitais e a rádio, até às redes sociais. Encontrei reacções de toda a espécie, desde quem acordou para o drama ecológico que o mundo vive, até aos eternos negacionistas para quem a existência das alterações climáticas é pura invenção de uns tantos ‘iluminados’, mostrando a sua total indisponibilidade para mudar o que quer que seja no seu comportamento quotidiano.
Antes de entrar no coração do filme e do essencial da sua mensagem, avanço com uma pergunta que – espero – é provocadora: se o carteiro tivesse tocado à minha porta para me entregar esta Carta do Papa, que é que eu conseguiria ir a Roma dizer sobre os efeitos das alterações climáticas e, sobretudo, acerca do que já estou a fazer para as combater e salvar a nossa Casa comum? Esta questão invade-me e abana-me desde que vi o filme. Vamos então a ele!
Kandé, vindo de Saint-Louis, é o porta-voz dos pobres vitimados pelas alterações climáticas e explica que o mar está a engolir a terra e os mais jovens tentam fazer-se ao mar (como ele o fez!) para encontrar futuro na Europa. O Chefe Dadá é o porta-voz dos povos indígenas e partilhou as ameaças de morte por defender a floresta, o pedaço de terra que herdaram dos antepassados. Ridhima já tem, aos 13 anos, um vasto curriculum de luta pela causa ecológica e pede que os líderes mundiais façam algo contra o impacto brutal das alterações climáticas, pois o futuro do mundo está em risco. O casal Robin e Greg dão a vida no Havai pela proteção dos corais no mar. São porta-voz da vida selvagem e, como cientistas, já perceberam que as ondas de calor marinho matam os corais que são a floresta tropical dos oceanos, pondo em causa a sobrevivência de muitas espécies.
Os alertas estão dados, mais uma vez, através deste documentário realizado por Nicolas Brown. A mãe Terra grita. Lorna Gold desempenha o papel de um ‘guia oficial’ dos convidados, coordenando os momentos, seja no encontro com o Papa, seja na visita a Assis. Confessa que o objectivo deste filme é reunir diferentes periferias para dialogar. Conclui que, ‘depois de se saber, não se pode fingir que não existe, não pode!’.
O Papa Francisco vai intervindo ao longo do filme. Lembra que a supremacia do económico gera muitos escravos. Elogia as comunidades indígenas, pois preservaram 80% da biodiversidade. E termina com uma convicção: ‘Todos precisamos uns dos outros. E só podemos construir o futuro juntos, sem excluir ninguém!’.
Mas eu deixo um aviso: ver este filme pode prejudicar gravemente a nossa indiferença e obrigar-nos a um compromisso mais radical pela solidariedade e pelo cuidado da casa comum! Vejam lá onde se querem meter!
Em resumo: é um filme para ver, rever, meditar e tomar a sério. Não percam, até porque é de graça, no youtube, à distância e ao preço de um clic!