Vocês sabem, melhor do que eu, que hoje não basta saber cozinhar, é necessário dominar a arte do empratamento. Alguns chamam-lhe mesmo engenharia do gosto. Além do sabor, há que ter em conta os aromas, texturas e cores do alimento na hora de escolher como os exibir no prato. Escreve quem sabe e lê quem aprende que é de evitar, por exemplo, um empratamento na vertical, com comida uma em cima da outra. “É muito importante existir uma orientação zen para que a refeição seja tranquila”, aprendo. E as guarnições? Servem para “melhorar e combinar os sabores do prato, mas não devem prevalecer contra a iguaria principal”, como é óbvio!
Já quando me dizem que a arte do empratamento se desenvolveu a partir da “Nouvelle Cuisine”, na década de 1960, tenho de discordar. Sim, porque conheço os sucessos e os fracassos de Nosso Senhor em servir a comida aos seus ouvintes. Por vezes as multidões “ficavam extasiadas com o seu ensinamento, porque as ensinava com autoridade e não como os seus escribas” (Mt 7,28). Outras ocasiões, porém, Jesus evitava embelezamentos e servia o alimento tão cru que “depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?»” (Jo 6,60).
Temos, pois, que saber empratar não é só para a carne e o peixe, mas também para a Palavra de Deus. O Papa Francisco, aliás, dedicou parte da Exortação “A Alegria do Evangelho” a dar recomendações nessa linha: “Alguns acreditam que podem ser bons pregadores por saber o que devem dizer, mas descuidam o como, a forma concreta de desenvolver uma pregação. Zangam-se quando os outros não os ouvem ou não os apreciam, mas talvez não se tenham empenhado por encontrar a forma adequada de apresentar a mensagem” (nº 156).
Quanto à pregação não sei, mas com a gastronomia há um risco: ter um empratamento criativo e inesquecível, mas ficar com fome.
Quanto à pregação não sei, mas com a gastronomia há um risco: ter um empratamento criativo e inesquecível, mas ficar com fome.
“Crónica” é uma rubrica mensal do jornal “Ação Missionária“, pelo P. Aristides Neiva