Joana da Paz, então com 80 anos, conseguiu desmantelar uma rede de tráfico no bairro onde vivia em Copacabana, no Brasil, apenas com uma câmara VHS e um espírito destemido e inquebrável.
Joana vivia em casa própria há 37 anos, paga com muito trabalho, esforço e orientação. Quando comprou esta casa, em frente era um morro verdejante. 40 anos depois, é um morro de favelas, onde tiros, tráfico de droga, violência eram intensos e descarados. Ainda no início dos anos 2000, decidiu entrar com uma ação contra o Estado devido à desvalorização do seu imóvel, muito na sequência da criminalidade na região. No entanto, durante o processo judicial, um coronel da Polícia Militar afirmou que ela mentia sobre a existência do tráfico, garantindo que o problema estava a ser combatido pelos agentes.
Determinada a provar que dizia a verdade, Joana comprou uma câmara VHS para filmar tudo o que via da sua janela. Apesar da baixa resolução, as imagens captaram traficantes armados a vender droga na área.
As gravações foram entregues à Polícia Civil e deram início a uma grande — e perigosa — investigação. Após semanas de patrulhas e emboscadas, mais de 20 pessoas, entre criminosos e polícias subornados, foram presas. De um dia para o outro, Joana tornou-se na “heroína misteriosa” da região.
Com o caso encerrado, a reformada passou a ser alvo de ameaças e foi colocada no programa de proteção a testemunhas. Teve de abandonar o Rio de Janeiro e o bairro que tanto lutou para proteger e onde tinha os seus amigos e relações sociais. Passou a viver uma vida sob anonimato forçado. A 23 de fevereiro, a “heroína misteriosa” morreu aos 97 anos na sua nova morada, na Bahia.
A sua história inspirou “Vitória”, filme protagonizado por Fernanda Montenegro. Embora seja baseado num caso verídico, há uma diferença notória: a verdadeira Joana da Paz não era uma mulher branca, mas sim negra. Breno Silveira, o primeiro realizador da obra, explicou que, quando a produção começou, Joana ainda estava viva — morreu em fevereiro de 2023 — e a sua identidade não era conhecida. Por isso, decidiram proteger informações que pudessem facilitar a sua identificação e selecionaram uma atriz branca.
Após a morte de Breno Silveira em 2022, o cargo de realizador foi assumido por Andrucha Waddington, casado com Fernanda Torres, filha de Montenegro, desde 1997.
A história de Joana Zeferino da Paz foi revelada em 2005 pelo jornalista Fábio Gusmão (interpretado no filme por Alan Rocha), mas apenas sob a condição de que o seu nome fosse mantido em anonimato.
Imperdível! Nunca é tarde para potenciar a verdade, mesmo com custos.