Portugal vive, neste mês de abril, a celebração dos 50 anos do 25 de abril de 1974. Muitos de nós não vivemos no antigo regime, denominado de ‘Estado Novo’, nem conseguimos perceber muito bem que tempos foram esses em que uns e outros se digladiaram pela liberdade.
Hoje, em muitos círculos por onde ando, e quando se fala um pouco mais alto sobre determinado tema, ou se agita uma qualquer bandeira que vai contra o ‘Status Quo’ ainda é comum alguém me sussurrar ‘tome cuidado que eles andam aí’, como se a liberdade de expressão ainda não fosse uma das vitórias completa do que nos trouxe aquele abril dos cravos.
Que liberdade necessitamos hoje? Como vive, cada um de nós, este ser livre? Num momento crítico do jogo geopolítico mundial, e quando ainda recentemente realizámos novas eleições e nos preparamos para, em junho, voltarmos às urnas, importa refletir profundamente sobre o modo como exercemos a nossa liberdade nos seus vários sentidos: Antes de mais em nós próprios e no modo como nos permitimos, ou não, determinados modos de pensar e agir. Nos outros, e nas diferentes relações que estabelecemos, e na nossa relação com Deus.
Se olharmos para a Grécia Antiga percebemos rapidamente que a Liberdade não era, por si só, um bem, mas aparecia relacionada com a virtude. Ser livre, na escola de Platão, implicava o viver em virtude, de acordo com a moral. Para Aristóteles da liberdade passava pela capacidade de tomar decisões sobre si tendo em vista um agir concreto ou a sua omissão.
Bebendo destes conceitos São Tomás de Aquino, considerou que a liberdade consistia na capacidade do humano se dirigir ao seu fim último, entendido como Deus. Nesta visão a liberdade não é um fim, mas um meio pelo qual se escolhe o melhor bem, aquele que mais satisfaz e que mais aproxima o humano do divino, último lugar de liberdade.
Com a idade moderna instalou-se a ideia de qua a liberdade poderia ser um fim em si mesma e que se restringia a satisfazer a vontade individual. Isto desde que não fosse contra a vontade de outrem.
Herdeiros destas formas de pensamento, e percebendo em nós as suas tensões, temos dificuldade em viver livremente e exercitar plenamente a liberdade buscando o maior bem.
Sabemos a teoria, mas falta-nos a prática. Acomodamo-nos e conformamo-nos ao mundo.
Como crentes, salvos pelo carpinteiro da Galileia, somos desafiados ao desassombro de uma liberdade que não tem em conta o seu próprio interesse, mas percebe o bem comum como o seu fim para que “todos sejam salvos”.