O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central. O calor foi sempre demais, transpirei litros e litros, bebi muitos mais, dei saltos e mais saltos nas estradas, visitei muitas comunidades religiosas e paroquiais, encontrei-me com este povo que nasceu num pais rico, mas vive, na sua maioria, pobremente.
Tive a alegria de percorrer quase toda a grande Diocese de Franceville, lá onde as florestas são equatoriais. Ali cheguei de avião ao aeroporto de Mvengue, fui levado até à capital da Província de Haut Ogouoé, visitei a Catedral construída pelos Espiritanos, fui ate ao Paço Episcopal que tem uma vista soberba sobre o grande rio Ogouoé e partimos rumo a Muanda, outros dos locais onde há muita exploração de magnésio, que faz do Gabão o 2º exportador mundial. Recebidos na Paróquia Beato Brottier, ali celebrei e jantei com os responsáveis da comunidade cristã.
A viagem seguinte levou-me mais para o interior, até Lastoursville, lá onde os Espiritanos chegaram há muitos anos e construíram a Missão que ainda hoje é Igreja Paroquial. Esta terra é conhecida como a cidade mais rica em termos florestais, tal a quantidade de extracção de madeira, retirada das imensas florestas tropicais. Nos edifícios paroquiais funciona o Postulantado da Congregação, dirigido pelo P. Jacinto Sibandu, um guineense que estudou no Porto. Momento simbólico desta visita foi a Missa com a presença da Dra Paulette Missango, Presidente do Senado.
Regressei de avião a Libreville e, ao fim da tarde, já voava para Port Gentil, a capital económica, porque é a cidade petrolífera do país. Encontrei-a a viver um momento de tensão, pois uma plataforma de exploração de petróleo tinha explodido e ardido, matando várias pessoas. A cidade borbulha de vida, uma vez que há muito calor e o povo sai à rua, apesar de haver recolher obrigatório à meia noite. Visitei as Paróquias de S. Paulo e do Sagrado Coração de Jesus, animadas por Espiritanos. Passei duas noites no Centro Esperança e Missão de Inserção (CEMI), obra que acolhe a acompanha crianças e jovens de rua. Foi ali que vivi a celebração do Domingo de Ramos, a que se associaram muitos vizinhos e amigos que garantiram vibração e festa na nova Igreja deste Centro.
Libreville, com um calor insuportável, tomou conta da minha última semana gabonesa. Visitei diversas paróquias situadas nos bairros periféricos da capital, bem como o Seminário Espiritano Brottier, única instituição educativa da Igreja reconhecida como Instituto Superior pelo Ministério da Educação.
Vivi as celebrações do Tríduo Pascal em diversas Igrejas da cidade, todas marcadas por uma presença massiva de pessoas e por muito canto, debaixo de fortes tempestades, que nos retiraram várias vezes a luz eléctrica, já para não falar das frequentes falhas da internet.
O país vive momentos de muita tensão, mas também de esperança. Desde 1967 até 30 de agosto de 2023, data do golpe de estado, o país foi governado pela família Bongo, que enriqueceu uma elite e as multinacionais estrangeiras, mas manteve o povo muito pobre. O Presidente da Transição é o General Oligui Nguema, da Guarda Republicana. Convocou um Fórum de Diálogo Nacional Inclusivo, presidido pelo Arcebispo de Libreville que, na Missa Crismal, rezou e pôs todos católicos a rezar para que este evento aconteça segundo a vontade de Deus. Quando foi dito, pelo animador da celebração, que D. Jean Patrick Iba-Ba era o presidente deste fórum, a catedral vibrou com uma monumental ovação, tal a esperança que o povo deposita nesta nova era que se desenha na linha do horizonte.
O Gabão prepara dias melhores. O golpe de estado não fez sangue, mas o ambiente é tenso e há recolher obrigatório à noite. As comunidades católicas rezam pela paz e mudança, tendo até acrescentado uma oração universal na grande celebração da Sexta feira Santa.
É sempre uma alegria encontrar pessoas e comunidades, ver novas terras, enfrentar novos menus gastronómicos, como foi o caso das carnes de serpente e de crocodilo, com que me presentearam por ser visita de Roma!
Parto para o Congo Brazzaville de coração cheio. Vi, ouvi, senti quanto os Espiritanos são aqui elogiados por serem os pais desta Igreja, onde chegou o P. Bessieux há 180 anos, marcando definitivamente esta terra e este povo. Assim se entende o grito do Papa João Paulo II na Catedral, em 1982, hoje gravado num grande cartaz: ‘Daqui, a luz do Evangelho brilhou sobre os países africanos!’.