5º Domingo da Quaresma
A nenhum de nós é difícil imaginar os rostos duros, indignados e acusadores dos escribas e fariseus que quiseram fazer de Jesus o juiz daquela pobre mulher, acusada do hediondo pecado de adultério. Eles expressam o zelo farisaico por uma lei que foi violada e que urgia reparar pela aplicação impiedosa da pena prevista desde Moisés.
Mas, este zelo hipócrita nada tem a ver com o Deus de Jesus Cristo: maior adultério cometiam-no eles, ao recusarem o Deus “clemente e compassivo, lento para a ira e rico de misericórdia”, que assim se autodefiniu perante Moisés e que Jesus tão bem retratou na parábola do “pai bom”, que nos foi servida no passado domingo.
O episódio de hoje pode considerar-se mais um belo texto sobre a misericórdia. Aqui o filho mais velho é substituído pelos fariseus e escribas, de dedo acusador apontado para aquela mulher, e aos quais Jesus recorda a nossa condição comum: “atire a primeira pedra quem estiver sem pecado!”
Não imitemos, pois, os escribas e fariseus, que preferiram retirar-se sorrateiramente, carregando um pecado reconhecido, mas não assumido, quando, bem junto deles, estava Alguém que também a eles queria perdoar, dizendo–lhes: ide em paz e não volteis a pecar!
Esta é a grande maravilha que Deus quer realizar em cada um de nós. De facto, só as águas abundantes e refrescantes do rio do perdão divino podem acabar com a aridez de uma vida corrompida, porque mergulhada na satisfação dos desejos naturais, ou cristalizada numa dureza de coração, incapaz de perceber e sentir a alegria da primavera que chega através do perdão, concedido e acolhido!
Como as nossas vidas seriam diferentes se substituíssemos o rigor, a intransigência e a incompreensão pela misericórdia e pelo perdão mútuo! É este, na verdade, o caminho novo que o Senhor quer abrir, para fazer brotar rios de misericórdia na aridez dos nossos desertos existenciais!
Por isso, se Cristo não condena aquela mulher, também não a ‘despenaliza’ pura e simplesmente. Pelo contrário, convidando-a a não voltar a pecar, aponta-lhe os caminhos do verdadeiro amor, que ela deve percorrer a partir desta experiência do perdão.
Como S. Paulo, alinhemos todos na maratona da misericórdia, mesmo que a diferentes velocidades, pois na meta está Deus para a todos envolver no seu perdão, na sua misericórdia!