2º Domingo da Quaresma
É esta a recomendação que Deus faz a um Abraão cabisbaixo, porque preocupado com a ausência de descendentes que perpetuassem o seu nome: a manter-se esta situação, o herdeiro da sua casa seria Eliezer, de Damasco.
É verdade que, por várias vezes, Deus lhe repetira que a sua descendência seria mais numerosa que as estrelas, mas, até agora, não tinha ido além disso: promessas! Por isso, Abraão não despegava os olhos do chão, e suas noites eram povoadas de “grandes e escuros terrores”. Este convite – “olha para o céu” -, Deus o repete hoje a cada um/a de nós, por mais complicada que seja a situação em que nos encontremos.
E somos chamados a fazê-lo, não por desespero ou por alienação, mas apoiados na certeza que brota da transfiguração de Jesus, operada na presença de Pedro, Tiago e João, para que a sua fé sobrevivesse ao crescente processo de desfiguração a que Jesus ia ser sujeito até à paixão e ignominiosa morte de cruz.
Com tanta gente deprimida e oprimida, neste mundo de insegurança e de violência, cheio de incertezas, de desorientação e desencanto, cada vez mais mergulhado no consumismo e no prazer, urgente se torna acender-se a luz da esperança, lançar o grito: “olhai para o céu!”
Que esta caminhada quaresmal, de conversão e de renovação, nos prepare para nos tornarmos pregoeiros credíveis deste “olhai para o céu” junto dos homens do nosso tempo, através da prática das obras de misericórdia, pois “no pobre, a carne de Cristo torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga… a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós” (Papa Francisco).
Sem este “olhar para o céu” dificilmente conseguiremos fixar o nosso olhar e agir no “baixo” de tanta desfiguração que inevitável e constantemente nos atropela e interpela.
Ainda há tempos, o Papa Francisco recomendava a “carinhoterapia”, para podermos transformar tantos caminhos de desfiguração em caminhos de ressurreição! Na verdade, só com ela poderemos acender a luz do Tabor na noite de tantas desfigurações!
