Solenidade de Cristo, Rei do Universo e nosso Rei
Ao deslocar esta solenidade de Cristo-Rei para o fim do ano litúrgico, a intenção da Igreja não era a de atirar a realeza de Cristo para um ‘amanhã’ tão distante como as calendas gregas, mas a de fazer dela a chave da nossa vida, o impulso que transforma a repetição cíclica do tempo numa caminhada contínua para a meta que é o Reinado de Cristo.
Por isso, esta celebração tem de incluir um exame de consciência sobre a real interferência que Cristo teve nas situações mais difíceis e nas decisões mais importantes que ao longo deste ano fomos vivendo e tomando, sob pena de não passar de uma solenidade meramente folclórica.
Os textos de hoje colocam a proclamação da realeza de Cristo em contextos nada favoráveis. Não é após um sucesso eleitoral retumbante ou em situação extremamente favorável que ela acontece. Pelo contrário, é sob a tirania brutal, provocante e blasfema de Antíoco Epifânio – esse “ramo perverso, filho do rei Antíoco” (1Macabeus, 1,10) – que Daniel vê alguém “semelhante a um filho do homem”, sobre as nuvens e a quem foi entregue o poder, a honra e a realeza.
Por sua vez, é na condição de preso, de acusado e antecipadamente condenado, que Cristo assume e proclama diante de Pilatos a sua realeza: “Sou rei! Para isso nasci e vim ao mundo”.
Vivendo nós em tempos de tantos imperialismos e tirania emboras, mais fáceis, mais agradáveis e mais apetecíveis, também mais urgente se torna que tenhamos a ousadia ‘louca’ de proclamar, com a vida, as atitudes e as palavras, que pertencemos ao reino da verdade, da justiça, do amor e da paz, sem nos envergonharmos de Cristo, o nosso Rei, nem dos seus caminhos.
Porque se trata de tarefa nada fácil, porque se trata de ser ‘resistência’ a toda a espécie de idolatria que grassa por esse mundo fora, em que todos os meios são justificados pelos fins a alcançar, também nós precisamos de ver, como Estêvão, “o céu aberto e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus” (Act.7,56).
Que a celebração da Solenidade de Cristo Rei nos ajude a melhorar a qualidade da nossa visão, para podermos combater com as armas que Cristo usou!