14º Domingo do Tempo Comum
A Palavra do Senhor deste Domingo confronta-nos com duas lições, cuja aprendizagem nos é particularmente difícil.
Mergulhados como estamos na cultura do primeiro, do mais importante e do mais forte, em que, para triunfar, temos de nos impor aos outros, não é fácil descobrirmos a força da fraqueza. S. Paulo mostra-nos que a aprendeu muito bem ao afirmar “alegro-me nas minhas fraquezas, nas afrontas…. porque, quando sou fraco, então é que sou forte”. Mas nada faz supor que tal aprendizagem lhe tenha sido fácil e rápida! Trata-se, na verdade, de uma lógica bem diferente!
Quanto à outra aprendizagem que nos é proposta, também não se apresenta nada fácil, pois temos um ‘fraquinho’ pelo milagroso, pelo extraordinário: bem gostaríamos que os ‘ministros de Deus’ fossem feitos de outro ‘barro’, melhor dizendo, que fossem perfeitos, que fossem santos, que fossem ‘anjos’! Custa-nos a aceitar que a pessoas como nós, fracas e pecadoras, sejam confiados os mistérios da graça, os mistérios de Deus. Já no Antigo Testamento, foi forçoso atribuir nascimentos extraordinários aos grandes vultos da história da salvação: Moisés, Samuel, Sansão, João Batista…
Foi também por isso que os contemporâneos e conterrâneos de Jesus se recusaram a aceitar os seus ensinamentos: simplesmente porque era um deles, bem conhecido de todos desde longa data – “não é Ele o carpinteiro, filho de Maria…?”
E reparem que as tradicionais biografias dos Santos estavam cheias de acontecimentos extraordinários e, ainda hoje, nas procissões eles são colocados em majestosos andores, como seres que estão ‘acima’ de nós!
A verdade é que, para nos falar e para fazer chegar até nós a sua graça, Deus decidiu servir-se de meios e de pessoas ordinárias, feitas do mesmo barro que nós, que moram ao nosso lado, trabalham e convivem connosco. Mas ainda há cristãos que, por exemplo, recusam receber a comunhão distribuída por leigos, embora para isso mandatados!
Mas, muito provavelmente, a razão mais profunda será outra: é que, segundo esta lógica de Deus, também nós somos chamados a ser seus instrumentos, a ser trabalhadores da vinha do Senhor, não nos podendo remeter a meros consumidores da graça, uma vez que, para tal, não se requerem dons e graças extraordinárias, mas apenas se nos pede que ponhamos a nossa ‘fraqueza’ à disposição da ‘força’ do Senhor! Maria também percebeu isso muito bem: no seu ‘Magnificat’, ela canta que o Senhor “derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes”.
Por isso, a quantos estão comprometidos nas comunidades cristãs Deus repete: “Basta-te a minha graça” e, como Jesus, seguirmos o nosso caminho. E a quem está sempre de língua afiada para criticar aqueles e aquelas que dão o seu melhor, seja em que tarefa for, eu digo: apresente-se quem faça melhor!