12º Domingo do Tempo Comum
Mesmo que, por vezes, seja designado como “Mar da Galileia”, a verdade é que as dimensões deste lago, as suas águas – habitualmente calmas – e a rotina adquirida na faina diária da pesca ao longo de tantos anos, não faziam prever que esta travessia descrita por S. Marcos viesse a revestir-se de tamanhas dificuldades!
Por isso, o relato desta viagem tormentosa aponta para dimensões de um alcance muito maior. É que, para cada um de nós, há sempre uma viagem a fazer, há uma outra margem a alcançar!
Com Job, quantas vezes não desabafamos nós também: “que mal fiz eu a Deus? Porque é que foi a mim que isto aconteceu?”. E também a nós não nos satisfazem as rotineiras consolações: “conforme-se com a vontade de Deus! Deus também sofreu…. Já tinha que acontecer!”. Como Job e tapando a nossa boca com a mão (é isto que ‘adorar’ significa), somos convidados a alcançar a outra margem – a do Calvário -, aprendendo com Cristo a sofrer por amor e com amor.
Com S. Paulo, somos convidados a não nos quedarmos pela margem de cá, da ‘ordem natural das coisas’: na e pela morte de Cristo, tudo foi renovado! A nossa ‘margem’ é a da nova ordem. Por isso, o amor de Cristo impele-nos à renovação de tudo e de todos, a começar por nós próprios.
E, por mais batidos que tenhamos sido pelas ondas da vida, por mais calejados que estejamos no lidar com a dor, com o sofrimento e com a morte, a verdade é que somos sempre apanhados desprevenidos! Na verdade, a “outra margem” é sempre bem distante. Por isso, o sofrimento e a dor desafiam-nos constantemente e desafiam, quantas vezes, as seguranças de uma fé ‘acomodada’.
Aceitemos, nós também o desafio de Cristo: “passemos para a outra margem”, sabendo que Ele está e vai no nosso barco, por mais ausente que nos pareça, e que, com Ele, sejam quais forem as tempestades que nos surjam na travessia, garantidamente chegaremos ao porto seguro da outra margem – a Casa do Pai!
É este olhar diferente que nos permite fazermo-nos ao largo, enfrentando, com serenidade e confiança, os desafios do incerto, do inseguro e do desconhecido, e não nos limitarmos a uma mera navegação costeira, sem dúvida mais segura, mas também privada dos largos horizontes do alto mar e de alcançar a ‘outra margem’!