3º Domingo da Quaresma
Nestes três verbos – simplificar, contextualizar, focalizar – se pode condensar a mensagem da Palavra do Senhor deste 3º domingo da nossa Quaresma. De facto, as diversas versões do programa ‘Simplex’, que vão sendo implementadas entre nós, não são suficientes para eliminar a nossa tendência à complexificação. Veja-se só o que aconteceu com os 10 mandamentos: no livro do Deuteronómio já vamos encontrar 613 prescrições para pautar o comportamento dos judeus! Como sabemos, Cristo vai reduzi-los a dois: “o segundo é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo”!
Esta complexificação agrava-se com a frequente descontextualização a que eles estão expostos. Com efeito, fora do seu contexto verdadeiro, as normas perdem o seu sentido e finalidade, derivando facilmente para tabus e valores absolutos. Recordem-se as censuras de Cristo aos Fariseus pela sobrevalorização das proibições em dia de sábado e outras práticas, como a obrigatoriedade de lavar as mãos antes das refeições ou do jejum.
Também os 10 mandamentos, fora do contexto da Aliança – de que são expressão e exigência – facilmente são encarados como imposições tirânicas, inibidoras da liberdade humana, em vez de serem vistos como o código que nos permite circular nas estradas da vida sem cairmos constantemente nos engarrafamentos dos nossos caprichos egocentristas.
De tudo isto resulta uma desfocalização, bem representada pela feira em que se foi transformando o átrio do Templo de Jerusalém. A única reação irada e violenta de Jesus que os Evangelhos registam foi contra esta situação: é que a casa do Pai nunca pode ser transformada em casa de negócios, pois ela é a casa da fraternidade, sem espaço para relações interesseiras.
Apresentando-se como o verdadeiro Templo, Jesus declara que só o ser humano é verdadeiramente sagrado, que não pode ser profanado pela sua redução a objeto, sobre o qual possa recair o interesse ou desinteresse dos outros, e que não há fraternidade que resista se não for alicerçada na paternidade do Pai do Céu: Humanidade sem Deus, por mais belos e elevados que sejam os seus ideais, não resiste à voracidade dos interesses individuais, grupais ou nacionais. Basta ter olhos e querer ver! O que está acontecendo na compra e venda das vacinas contra o Covid 19 é mais uma prova.
Arrumar a casa é, por isso, tarefa urgente, embora exigente, a que cada um de nós não pode fugir neste tempo da Quaresma, para regressarmos ao essencial da vida cristã, bem centrados e focalizados em Jesus e nos irmãos, tendo como código de conduta o duplo mandamento do amor. Só assim será segura a nossa viagem para a Páscoa, rumo à Páscoa eterna!
Em tempos de confinamento, o que menos nos falta é tempo para realizar esta tarefa: queiramos nós encará-la como fundamental e urgente!