1º Domingo da Quaresma
Do lendário episódio do Dilúvio, as duas primeiras leituras retêm apenas o mas significativo e mais importante para nós, hoje.
Pedro apresenta-nos a água como “figura do Batismo que agora nos salva” do verdadeiro e temível dilúvio do pecado, graças à Páscoa de Cristo. Por isso, o Batismo não é uma simples “purificação da imundície corporal”, mas o “compromisso para com Deus de uma boa consciência”.
Por sua vez, o texto do Génesis centra-se no juramento de Deus de que “de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pela água do dilúvio”, deixando-nos até o arco-íris como sinal dessa aliança do céu de Deus com a terra dos Homens.
Esta mensagem de conforto e de esperança é de uma oportunidade extrema no começo desta pouco tradicional Quaresma, pois esta não se destina sobretudo a mortificar-nos, mas a permitir-nos, no dizer do Papa Francisco, renovar e fortalecer a nossa fé, obter a ‘água viva’ da esperança e receber de coração aberto o amor de Deus, que nos transforma em irmãos e irmãs em Cristo.
Mesmo nas condições estranhas em que ela vai ser vivida, o Papa repropõe-nos os meios tradicionais do jejum, da oração e da esmola, pois “o caminho da pobreza e da privação (jejum), a atenção e os gestos de amor pelo homem ferido (a esmola) e o diálogo filial com o Pai (a oração) permitem-nos encarnar uma fé sincera, uma esperança viva e uma caridade operosa”.
Na verdade, “ao fazer a experiência de uma pobreza assumida, quem jejua faz-se pobre com os pobres e acumula a riqueza do amor recebido e partilhado”.
Por sua vez, “no recolhimento e na oração, a esperança é-nos dada como inspiração e luz interior, que ilumina desafios e opções da nossa missão. Por isso mesmo, é fundamental recolher-se para rezar e encontrar, no segredo, o Pai da ternura”, pois “no contexto de preocupação em que vivemos atualmente, onde tudo parece frágil e incerto, falar de esperança poderia parecer uma provocação. Mas o tempo da Quaresma é feito para ter esperança, para voltar a dirigir o nosso olhar para a paciência de Deus.
Finalmente, “a caridade é o impulso do coração que nos faz sair de nós mesmos, gerando o vínculo da partilha e da comunhão”. Com efeito, mesmo o pouco, “se partilhado com amor, nunca acaba, mas transforma-se em reserva de vida e de felicidade”. De facto, “a caridade, vivida seguindo as pegadas de Cristo na atenção e compaixão por cada pessoa, é a mais alta expressão da nossa fé e da nossa esperança”.
Daí, o seu voto final: “que este apelo a viver a Quaresma como percurso de conversão, oração e partilha dos nossos bens, nos ajude a repassar, na nossa memória comunitária e pessoal, a fé que vem de Cristo vivo, a esperança animada pelo sopro do Espírito e o amor cuja fonte inexaurível é o coração misericordioso do Pai”.