Nos últimos tempos tenho tido muitos alunos, jovens entre os 15 e os 18 anos, que me questionam sobre os efeitos dos escândalos dos quais a Igreja tem sido protagonista nos últimos anos. A maioria fá-lo pela violência e inumanidade dos casos conhecidos, a exposição mediática global e porque o mundo ainda olha para a Igreja, e para os seus membros, como uma espécie de “alicerce da ética e da moralidade do mundo”.
Os atos praticados por membros da Igreja ferem indelevelmente as vítimas e conduzem a consequências bem mais graves do que as necessárias falências que surgiram para pagar indeminizações: A desconfiança da comunidade humana perante uma Igreja que nasceu para ser testemunha do amor de Deus junto dos mais pobres e abandonados.
Ainda que o mundo atual possa não concordar com todos os dizeres da Igreja esta continua a ser porto de abrigo para milhões de seres humanos.
Num mundo em velocidade supersónica na mudança, com um agir cada vez mais tecnicista e material, a Igreja apresenta-se ainda perante o Humano, perdido na pressa dos dias, como a possibilidade do encontro com o Sentido e o Mistério através de uma narrativa, tão poética, de um Transcendente que conhece cada um pelo seu nome e tem para cada qual um projeto de felicidade.
Se a Igreja tem aqui futuro, junto dos desejos mais íntimos da Humanidade, o que lhe aconteceu para que o demónio se aproprie dos seus membros e destrua este Tesouro com crimes hediondos?
A ideia impôs-se-me nos últimos dias de dezembro. Pelo menos em alguns setores deixámos de ser a Igreja de Cristo que nos traz a novidade improvável da ressurreição e acomodámo-nos em “palácios e manjares” com os poderosos mais do que satisfeitos com a história de Jesus.
Sim, sobretudo nos países ditos desenvolvidos, alguns parecem mais preocupados com o status quo adquirido, com o equilibro financeiro, com a sustentabilidade da instituição ou com o reclamar da sua importância histórica, do que com a abertura ao sopro do Espírito do Ressuscitado, sempre novo e que incomoda quem está acomodado.
No meio das tribulações lembremos, por fim, o conselho de Libermann, e recobremos o animo: «Quando obstáculos como estes se apresentam, é necessário continuar, continuar sempre, ficar ao pé do muro, esperar que ele caia, e então passar por cima» (N.D., II, 160).