Festa do Batismo de Jesus
Apesar do título da festa de hoje e partindo dos textos evangélicos, não é difícil concluir que Jesus foi ‘batizado’ duas vezes: pela circuncisão, ao oitavo dia do seu nascimento e, já adulto, por João, o batista.
Ao primeiro ‘batismo’ segue-se, aos quarenta dias, a apresentação no templo e, a partir dos doze anos, a vinda a Jerusalém para a festa da Páscoa.
Este é o percurso ‘judaico’ de Jesus, que foi radicalmente alterado por aquilo que acontece após o batismo administrado pelo Precursor. Seja por um retiro de 40 dias no deserto, seja pela sua ‘homilia’ na sinagoga de Nazaré, seja após a prisão de João, o batista, o facto é que, após este segundo batismo – confirmado pela presença visível sobre ele do Espírito Santo em forma de pomba -, a vida de Jesus sofre uma viragem de 180 graus, dando início à missão que lhe foi confiada e com um fogo que nada nem ninguém é capaz de deter: nem os seus conterrâneos, nem os escribas e fariseus, nem o próprio Herodes – que o quis eliminar em criança e a cujas ameaças responde apelidando-o de ‘raposa’ -, nem as próprias preferências pessoais: segue e obedece sempre e só à vontade do Pai do Céu: “aqui estou para fazer a tua vontade; não se faça como eu mais gostava, mas como Tu queres!”
E isto leva-nos a perguntar: onde está o FOGO dos batizados de hoje? Reclama-se e exige-se o batismo das crianças por parte de pais e padrinhos que não alimentam a sua fé com as celebrações litúrgicas – quantas vezes, nem sequer o sacramento do matrimónio celebraram!? -, que retiram os filhos da catequese paroquial após a primeira Comunhão ou a Profissão de fé.
E qual é o resultado? Caímos numa igreja à semelhança da Jerusalém que os Reis Magos encontraram: adormecida, bolorenta, que não encaminha, nem encanta!
Foi para combater este marasmo, esta hibernação eclesial, que, recentemente, foi publicado pela Santa Sé o documento “A conversão pastoral da comum idade paroquial ao serviço da missão evangelizadora da Igreja”, onde se pode ler: “a paróquia é uma comunidade convocada pelo Espírito Santo para anunciar a Palavra de Deus e fazer renascer novos filhos na fonte batismal. Reunida pelo seu pastor, celebra o memorial da paixão, morte e ressurreição do Senhor e testemunha a fá na caridade, vivendo em permanente estado de missão, para que a ninguém falte a mensagem salvífica, que doa a vida. ‘Santuário’ aberto a todos, a paróquia, chamada também a alcançar cada um sem exceção, recorda que os pobres e os excluídos devem ter sempre um lugar privilegiado no coração da Igreja. Como afirmou, Bento XVI, ‘os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho’. Por sua vez, o Papa Francisco escreveu que ‘a nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles: não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles. Com o olhar dirigido aos últimos, a comunidade paroquial evangeliza e deixa-se evangelizar pelos pobres, reencontrando neste modo o compromisso social do anúncio em todos os seus diferentes âmbitos, sem se esquecer da “suprema regra” da caridade, pela qual seremos julgados” Cf. nn. 29 e 31)
E a situação de pandemia, em que o nosso mundo está mergulhado, precisa tanto das vacinas como do FOGO dos batizados. Rezemos, pois: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e REACENDEI neles o fogo do vosso amor!