Domingo do Pentecostes
O relato do primeiro Pentecostes da história da Igreja, num intencional contraste com o episódio da Torre de Babel, põe em destaque a força congregadora da pregação dos Apóstolos, escutada por cada um na sua própria língua.
Num caso e noutro, o acento deve ser posto preferentemente na sua força simbólica, aplicada à capacidade linguística com que o ser humano está dotado e lhe permite entrar em comunicação com os outros, e que tanto pode ser usada para aproximar e fazer comunhão, como para dividir e afastar, pois o efeito provocado depende do coração e do espírito que anima a nossa linguagem.
E aquilo que nos é dito – e que já todos comprovamos – é que só pela força do Espírito Santo podem ser vencidas as tendências divisionistas, porque egocentristas, do coração humano; que só pelo Espírito Santo seremos capazes de deixar de encarar os outros como concorrentes e adversários, para fazer da sua diversidade e riqueza o grande material do enriquecimento mútuo, da complementaridade e da harmonia.
Por isso, a moeda a pôr a circular entre os humanos é o perdão, concedido e acolhido. Só com ele conseguiremos construir a paz, com que Deus nos quer abençoar.
Num tempo de tanta divisão, de tanta desconfiança, de tanta concorrência desleal e desenfreada, os cristãos são chamados a ser construtores de paz e de comunhão, abrindo-se ao dom do Espírito Santo e invocando com muita fé e confiança: Vinde, Espírito Santo, e renovai a terra do nosso coração! Fazei que dele só brotem rios abundantes de água viva, que irrigue e fecunde tantos corações humanos secos e áridos, que desertificam cada vez mais a vida humana!
Também não podemos ficar pelo nível da simples casualidade (‘por acaso’) perante a coincidência da retoma das celebrações comunitárias com esta festa do Pentecostes: esta pandemia remexeu todo o terreno da nossa existência e convivência. Urge, por isso, agora fecundá-lo com a ‘agua viva’ do Espírito Santo, para que se “renove a face da terra”.
É muito oportuno o pensamento que Fernando Pessoa expressa nestas palavras: “Depois de tudo, ficaram três coisas: a certeza de estamos sempre a começar; a certeza de que é preciso continuar; a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar! Por isso, devemos: fazer da interrupção um caminho novo; da queda, um passo de dança; do medo, uma escada; do sonho, uma ponte; da procura, um encontro”!
Convenhamos que ‘isto’ torna-se possível e, até, mais fácil com a força do Espírito Santo!