5º Domingo do Tempo Comum
O evangelista S. Mateus concentrou num discurso – o Sermão da Montanha – os ensinamentos que são considerados como a ‘magna carta’ do Cristianismo. Depois de proclamar as Bem-aventuranças, que espelham o espírito cristão, Cristo, através de imagens, aponta-nos a nossa missão de cristãos: ser sal, ser luz!
É verdade que estas imagens precisam hoje de ser recuperadas no seu sentido original. Com efeito, o sal está responsabilizado pela subida da tensão arterial e até se usa entre nós o adágio “a religião deve ser como o sal na comida: nem de mais, nem de menos”! Por outro lado, a luz hoje mais procurada é a dos holofotes das câmaras de televisão, pelas quais se consegue o estrelato. Só que estas ‘estrelas’ tanto têm de candentes, como de cadentes!
Aliás, Cristo põe o acento, mais que nos seus possíveis e inevitáveis efeitos, na sua própria essência: para que serve sal que não o seja de verdade, isto é, que tenha perdido a sua força de salgar, isto é, de conservar e de dar sabor? Que interessa uma lâmpada que se mantenha apagada ou já esteja fundida? Então, o mais importante, é que cada cristão seja mesmo sal de primeira categoria ou luz que ilumine e que o seu brilho seja mesmo intenso. E isto consegue-se muito mais através da prática do bem, da justiça e da misericórdia, do que por simples práticas religiosas, por mais louváveis que elas sejam – como o jejum, a que se refere o texto de Isaías.
É que a força do cristão não lhe advém sobreudo das suas capacidades pessoais ou das técnicas de que possa lançar mão, mas da disponibilidade à ação do Espírito Santo em si e através de si. É essa a consciência que S. Paulo nos revela no texto da sua 1ª Carta aos Coríntios: “a minha palavra e a minha pregação não se basearam na linguagem convincente da sabedoria humana, mas na poderosa manifestação do Espírito Santo”. Foi através de um Paulo “cheio de fraqueza e de temor e a tremer deveras”, que o Evangelho foi anunciado aos Coríntios.
De facto, nós, cristãos, não podemos rivalizar, seja com quem for, pelo poderio dos nossos meios, mas pela consciência de Quem atua através de nós – o Espírito Santo: não nos impomos pela nossa força, mas pelo fascínio irressistível das boas obras – “brilhe a vossa luz diante dos homens”, para que vendo-as,”glorifiquem o Pai, que está nos Céus”. Na verdade, o mundo exige de nós que não nos limitemos a ser bons ‘praticantes’, mas que sejamos factor decisivo para a resolução dos problemas, para a melhoria das situações! “O Evangelho é sal, mas vós tornaste-lo açúcar” dizia Paul Claudel. Na verdade, o Evangelho queima os lábios e o coração, mas o drama de hoje não está aí, mas num cristianismo sem Cristo, numa religião sem fé, num culto sem celebração, numa fé insípida, tépida e cinzenta, esquecida ou escondida sob o alqueire.
Apesar disso, o Senhor Jesus não desiste: somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, pois é deste sal e desta luz que o mundo de hoje mais precisa! Disponhamo-nos a dar a volta à nossa fé e às nossas vidas!