É o próprio Cristo que, no evangelho de S. Mateus (cap. 11) faz o elogio – diria, a ‘canonização’ – de João, o Batista: “Depois de eles terem partido, Jesus começou a falar às multidões a respeito de João: “Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Então, que fostes ver? Um homem vestido de roupas luxuosas? Mas aqueles que usam roupas luxuosas encontram-se nos palácios dos reis. Que fostes, então, ver? Um profeta? Sim, Eu vo-lo digo, e mais que um profeta. É aquele de quem está escrito: Eis que envio o meu mensageiro diante de ti, para te preparar o caminho. Em verdade vos digo: Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista”.
O papa Francisco, na sua recente exortação apostólica sobre a santidade – ‘Gaudete et Exultate’ – dedica o quarto capítulo a “algumas características da santidade no mundo atual” e que considera “particularmente importantes devido a alguns riscos e limites da cultura de hoje”, referindo explicitamente “a ansiedade nervosa e violenta que nos dispersa e enfraquece; o negativismo e a tristeza; a acédia cómoda, consumista e egoísta; o individualismo e tantas formas de falsa espiritualidade sem encontro com Deus, que reinam no mercado religioso atual”
Em contraposição, o Papa propõe-nos o “permanecer centrado e firme em Deus, que ama e sustenta”, pois “o testemunho de santidade, no nosso mundo acelerado, volúvel e agressivo, é feito de paciência e constância no bem”. Alertando para o risco de os cristãos também fazerem “parte de redes de violência verbal, através da internet e vários fóruns ou espaços de intercâmbio digital”, comenta: “É impressionante como, às vezes, pretendendo defender outros mandamentos, se ignora completamente o oitavo: “não levantarás falsos testemunhos” e se destrói sem piedade a imagem alheia. Nisto se manifesta como a língua descontrolada “é um mundo de iniquidade” e, inflamada pelo Inferno, incendeia o curso da nossa existência”.
Uma outra característica reside na alegria e sentido de humor: “o que ficou dito não implica um espírito retraído, tristonho, amargo, melancólico ou um perfil sumido, sem energia. O santo é capaz de viver com alegria e sentido de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança”, pois “o mau humor não é um sinal de santidade”. “Existem momentos difíceis, tempos de cruz, mas nada pode destruir a alegria sobrenatural”.
Uma terceira característica é a ‘parresia’, isto é, a ousadia, o impulso evangelizador que deixa uma marca neste mundo. A parresia é selo do Espírito, testemunho da autenticidade do anúncio. É uma certeza feliz que nos leva a gloriar-nos no Evangelho que anunciamos, é confiança inquebrantável na fidelidade da Testemunha fiel, que nos dá a certeza de que nada “poderá separar-nos do amor de Deus”.
É por estes caminhos que, nós também e à semelhança de S. João Baptista, deixaremos de ser “canas agitadas pelo vento”, ocupados e preocupados apenas com o luxo e o comodismo. Como diz o papa Francisco, “quantas vezes nos sentimos instigados a deter-nos na comodidade da margem! Mas, o Senhor chama-nos a navegar pelo mar dentro e lançar as redes em águas mais profundas”, no mar da santidade infinita do nosso Deus!