4º Domingo da Páscoa
Mesmo que a figura do pastor vá rareando cada vez mais na paisagem humana dos nossos dias, a sua imagem não se desvaloriza no muito que tem de ternura e de bucolismo.
Homem sem agenda, sem projeto próprio e sem relógio, todo voltado para o bem-estar do seu rebanho, indiferente ao sol ou à chuva, ao frio ou ao calor, numa solidão cheia de contemplação do horizonte e de interessantíssimos diálogos com cada uma das suas ovelhas, apoiado no seu bastão ou sentado numa fraga, e tendo por colaborador inseparável o seu fiel e competente cão – eis o modelo que Cristo evoca no Evangelho de hoje, para com ele se identificar e para o propor a todos aqueles que na Igreja, ao longo dos séculos, irão partilhar a sua solicitude pastoral, pela vocação ao sacerdócio ministerial, sem esquecer que toda a ação da Igreja, desenvolvida de forma organizada por qualquer dos seus membros, se designa precisamente ‘pastoral’.
Por tudo isto, foi designado este domingo como o dia do “Bom Pastor” e escolhido para jornada mundial de oração pelas vocações. E a ela se associa anualmente o Santo Padre através de uma mensagem por ele dirigida a toda a Igreja.
Sob o tríptico “Escutar, discernir, viver o chamamento do Senhor”, o papa Francisco recorda-nos que “a nossa vida e a nossa presença no mundo são fruto duma vocação divina”. Por isso, “na diversidade e especificidade de cada vocação, pessoal e eclesial, trata-se de escutar, discernir e viver esta Palavra que nos chama do Alto”.
Assim sendo, “não poderemos descobrir o chamamento especial e pessoal que Deus pensou para nós, se ficarmos fechados em nós mesmos, nos nossos hábitos e na apatia de quem desperdiça a sua vida no círculo restrito do próprio eu, perdendo a oportunidade de sonhar em grande e tornar-se protagonista daquela história única e original que Deus quer escrever connosco”.
O Papa reconhece que escutar “vai-se tornando cada vez mais difícil, imersos como estamos numa sociedade ruidosa, na abundância frenética de estímulos e informações que enchem o nosso dia. À barafunda exterior, que às vezes domina as nossas cidades e bairros, corresponde frequentemente uma dispersão e confusão interior, que não nos permite parar, provar o gosto da contemplação, refletir com serenidade sobre os acontecimentos da nossa vida e realizar um profícuo discernimento, confiados no desígnio amoroso de Deus a nosso respeito”.
Mas a verdade é que “cada um de nós só pode descobrir a sua própria vocação através do discernimento espiritual, que é um ‘processo pelo qual a pessoa, em diálogo com o Senhor e na escuta da voz do Espírito, chega a fazer as opções fundamentais, a começar pela do seu estado da vida’.
E o Santo Padre recorda que “a vocação cristã tem sempre uma dimensão profética. Como nos atesta a Escritura, os profetas são enviados ao povo, em situações de grande precariedade material e de crise espiritual e moral: como um vento que levanta o pó, o profeta perturba a falsa tranquilidade da consciência que esqueceu a Palavra do Senhor, discerne os acontecimentos à luz da promessa de Deus e ajuda o povo a vislumbrar, nas trevas da história, os sinais duma aurora”.
E o Papa conclui: “A vocação é hoje! Missão cristã é para o momento presente! E cada um de nós é chamado para se tornar testemunha do Senhor, aqui e agora. Não devemos ter medo. É belo – e uma graça grande – estar inteiramente e para sempre consagrados a Deus e ao serviço dos irmãos! O Senhor continua hoje a chamar para O seguir. Não temos de esperar que sejamos perfeitos para dar como resposta o nosso generoso ‘eis-me aqui’, nem assustar-nos com as nossas limitações e pecados, mas acolher a voz do Senhor com coração aberto”.
Somos, pois, hoje convidados a “escutar e discernir a nossa missão pessoal na Igreja e no mundo e, finalmente, a vivê-la no ‘hoje’ que Deus nos concede”, à semelhança de“Maria Santíssima, a jovem menina da periferia que escutou, acolheu e viveu a Palavra de Deus feita carne”. Que ela “nos guarde e sempre acompanhe no nosso caminho”!